ESCOLA
1. Para os professores
2. Para quem acolhe
3. Para as crianças / como responder às perguntas dos amigos?
Para os acolhedores
Nem sempre é possível escolher uma escola ou um colégio que seja sensível ao tema do acolhimento familiar e a questões relacionadas com o trauma, mas existem maneiras de os acolhedores conversarem com os professores e de os ajudarem.
Hoje em dia, a principal preocupação de muitas escolas e colégios assenta nas notas e nos resultados dos seus alunos, o que tem um efeito perverso no caso das crianças em acolhimento, que precisam de tempo para se ajustar à nova vida familiar, têm dificuldades de aprendizagem ou a quem, não faltando inteligência, falta muitas vezes confiança e amor próprio.
Idealmente, o papel da escola no primeiro ano depois do acolhimento seria unicamente o de ajudar a dar rotina e estabilidade à criança. As notas deveriam passar para segundo ou terceiro plano e a escola deveria ajudar a criança a sentir-se segura, tranquila e a trabalhar as suas competências emocionais e auto-estima. É neste sentido que os acolhedores podem ter um papel importante, ajudando os professores a desvalorizar as notas e preocupando-se em ajudar as suas crianças a saber responder emocionalmente aos desafios que a escola coloca. Uma criança com auto-estima, tranquila e confiante aprende melhor.
Algumas ideias:
• Estabeleça uma linha de comunicação com o professor, explique-lhe que estabilizar a criança é mais importante do que pensar nas suas notas;
• Saiba que existe uma diferença entre o desenvolvimento emocional da sua criança e a sua idade cronológica. Em casos de acolhimento é muitas vezes importante adiar a entrada da criança na escola (mantê-la mais um ano na pré-primária, até esta se sentir tranquila e estável);
• Prepare a criança. Não podemos controlar o que os outros vão dizer ou fazer, o que é algo que, como acolhedores, muitas vezes esquecemos. O professor da criança pode ser completamente compreensivo e cooperativo, mas isso não impede que outro aluno faça um comentário sobre como a sua criança “não era desejada” ou que “deveria ser mais parecido com a sua família”. Converse com a criança sobre coisas que pode ouvir de outros alunos ajude-o a encontrar maneiras fáceis de explicar a sua história.
• Peça na escola que tratem a criança como qualquer outro aluno para que esta não se sinta diferente.
• Procure informar a escola sobre o impacto do trauma, da negligência e do abandono;
• Evite fazer trabalhos de casa com a criança (esta vai estar mais preocupada com o medo que tem em desiludi-la do que a aprendizagem). Opte por ajudar a criança com a sua aprendizagem de um modo positivo, ou seja, leia livros com ela antes de adormecer, recitem a tabuada de forma divertida no caminho para a escola, façam jogos, cometam erros de propósito para a criança perceber que os acolhedores não são perfeitos. [Jogos aqui: https://www.cristinasiopa.pt/pt/jogos-brinquedos/jogos-educativos-e-de-tabuleiro ]
• Sublinhe à criança que ela se deve esforçar, mas que o mais importante para si não são as notas.
IDEIAS-CHAVE
• Os professores devem saber que existe uma diferença entre a idade cronológica da criança e a sua idade emocional, aprendendo a lidar com ela de forma adequada (ler aqui);
• A escola deve procurar, juntamente com os pais, ajudar a criança a desenvolver-se a nível emocional e social, dando primazia ao bem-estar da criança e melhorar a auto-estima;
• Isto não significa desistir da criança ou achar que esta não consegue aprender, apenas que uma criança com uma boa auto-estima, que se sente tranquila e segura aprende com maior facilidade;
• Os professores devem saber que no a criança se encontra em modo de sobrevivência, sendo normal que tenha falhas de memória e que se esqueça de coisas que aprendeu;
• A escola deve saber que as crianças em acolhimento familiar têm dificuldades ao nível da regulação emocional e ajudá-las neste sentido. Aprender a reconhecer, dar nome e saber situar as emoções no corpo ajuda muito as crianças a, lentamente, aprenderem a gerir os seus comportamentos;
• Os professores devem estar informados sobre questões de integração sensorial e saber que muitas vezes o barulho excessivo, alarmes, etc. criam um profundo desconforto e reacções inesperadas na criança;
• Deve saber-se que as mudanças de rotina afectam as crianças, que geralmente têm dificuldades com a transição entre tarefas. A elaboração de um plano do dia e avisar antecipadamente quando existem alterações no plano dá estabilidade às crianças;
• Não deve ser dito à frente de outros alunos que as crianças têm dificuldades. Muitas vezes estas lidam com problemas de auto-estima, vergonha e sensação de rejeição. O professor deve contribuir para que a criança se sinta valorizada (ajudando-a a reconhecer as suas qualidades) e não o contrário;
• Deve-se ter cuidado (ler as fichas aqui e aqui) com algumas tarefas nas quais se fale do papel da família. Alguns manuais escolares, sobretudo na adolescência, focam estes temas sem grandes preocupações com questões de trauma. Cabe aos professores ajudar os alunos na sua sala de aula e encontrar tarefas e respostas alternativas;
• Os trabalhos de casa devem ser feitos na escola e não em casa (quando possível, e sobretudo nos primeiros meses depois da chegada, estes devem ser adiados, pois atrasam a criação do vínculo meses ou anos);
• A estabilidade de pessoas é fundamental na vida das crianças em acolhimento, pelo que a escola deve avisar os pais se o professor se vai embora, para que a criança possa ser preparada e não sentir novamente o abandono;
• Os professores devem saber que as crianças que vivem em acolhimento familiar são hipersensíveis à crítica.
• Os professores devem saber que as crianças têm dificuldade em fazer relações de causa-efeito e que é preciso explicar-lhes calmamente que as suas acções têm consequências (se estudar mais tem melhores notas);
• Devem saber que as crianças se sentem zangadas e que a sua resposta emocional é muitas vezes extremada (batendo em si ou noutras crianças, gritando, fazendo birras), mas que estas melhoram com o tempo, firmeza e carinho. Devem ser usadas frases simples “não se bate” e ajudar a criança a perceber como poderia ter reagido melhor.
Proibido na escola:
• O time out acentua a sensação de abandono (opte pelo time in);
• Evite castigos e punições, converse com a criança e peça-lhe para Re-fazer (ler mais aqui) ou para ser mais gentil a responder;
• Gritar;
• Obrigar a comer (ler mais aqui);