ALIMENTAÇÃO
1. Alimentação e confiança
2. Quando as crianças não comem
3. Quando comem em excesso

Alimentação e confiança

 

As crianças que passaram algum tempo numa instituição ou tiveram cuidadores inconsistentes têm uma relação complicada com a comida. Podem ter chorado incessantemente sem que ninguém lhes tenha dado algo para saciar a fome, ter sido alimentadas à força ou terem-lhes sido dadas refeições a uma hora certa (no caso dos bebés) independentemente da sua fome. Algumas crianças vão armazenar ou esconder comida pela casa, outras recusam-se terminantemente a comer.

A acrescentar a isto, muitas vezes as refeições são excelentes para as chamadas «batalhas de controlo», em que as crianças tentam demonstrar que têm uma palavra a dizer naquilo que comem. Os pais ficam preocupados e caem muitas vezes no erro de insistir para que a criança coma, o que transforma a refeição num verdadeiro pesadelo.

Os pais devem evitar

  • Insistir para que a criança coma ou pressioná-la à força;
  • Dar prémios (autocolantes ou brinquedos);
  • Deixar as crianças verem televisão ou ter brinquedos na mesa para comerem;
  • Deixar as crianças sentarem-se no colo dos pais para comerem mais;
  • Vender com demasiado entusiasmo a comida (falar incessantemente sobre quão bom é comer);
  • Dar-lhes atenção excessiva.

PRESSIONAR A CRIANÇA NÃO A AJUDA PORQUE:

– A criança precisa de aprender a confiar nos pais para se conseguir vincular;

– A criança deseja autonomia e luta por ela;

– As batalhas de controlo por comida são a maneira perfeita de a criança testar os pais.

 

«As crianças têm medo de ser cooperativas, complacentes e receptivas. Para eles, esse comportamento representa ceder, o que se traduz em perda… Consequentemente, as crianças coreografam batalhas sobre as questões mais insignificantes”. Uma garfada de arroz pode parecer uma questão insignificante, mas para uma criança pode ser tudo menos isso.»

 

Fonte: Gregory Keck, Regina Kupecky, Parenting the Hurt Child, NY: Nave Press, 2009.

«O stress e as batalhas de controlo durante as refeições tornam mais difícil à criança sintonizar-se com as pistas de fome vindas dos seus próprios corpos e aumentam a probabilidade de comerem mais ou menos do que deveriam.»

UM MODELO DE ALIMENTAÇÃO BASEADO NA IDEIA DE CONFIANÇA AJUDA NA VINCULAÇÃO

– Os pais decidem as horas das refeições e o que é posto na mesa;

– As crianças decidem o que comem e a quantidade de alimentos que põem no prato;

– As refeições são feitas em conjunto e fala-se sobre outras coisas à mesa.

SINAIS DE ALTERAÇÕES NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL RELACIONADAS COM A ALIMENTAÇÃO

  • Sensibilidade à temperatura, textura ou cheiros;
  • Maior percepção do sabor;
  • Dificuldade em manipular utensílios;
  • Deixar os alimentos cair;
  • Mastigar com a boca aberta;
  • Morder a língua e os dedos ao comer;
  • Deixar cair os alimentos com frequência;
  • Ser irrequieto e incapaz de manter a atenção para comer adequadamente as quantidades necessárias;
  • Limpar frequentemente as mãos e a boca;
  • Preferir hidratos de carbono ou alimentos muito estimulantes sensorialmente, por exemplo, alimentos muito crocantes ou com tempero intenso;
  • Aceitar apenas texturas suaves ou uniformes.

Se a criança tiver sofrido algum tipo de coacção ao ser alimentada é natural que estas dificuldades surjam até esta ganhar confiança nos novos pais.

Sugestões

  • Evite batalhas de controlo a todo o custo. Deixe a criança decidir o que come e a quantidade (dentro do que os pais colocam na mesa);
  • Dê comida às crianças mais novas de duas em duas horas e às mais velhas de 3 em 3;
  • Ofereça água durante o dia, muitas crianças chegam a casa dos pais adoptivos desidratadas (o cheiro do seu xixi de manhã ajudará a perceber isso);
  • Escolha refeições de que a criança gosta muito para ir ganhando a sua confiança e a pouco e pouco comece a intercalá-las com outras de que a criança gosta menos, para que se vá habituando a alguma variedade e a alimentos novos;
  • Se a criança reage com birras ou pânico quando é sentada à mesa, isso significa que foi pressionada ou coagida a comer. A sua reacção resulta do medo e de experiências dolorosas anteriores e não dos alimentos em si. Tenha paciência e não insista. Repita que aqui ninguém a obriga a comer, mesmo que a criança coma pouco;
  •  Brinque e encha muito pouco o prato perguntando se assim está bem. Deixe a criança controlar a comida;
  • Certifique-se nos primeiros tempos de que existe sempre algo de que a criança gosta à mesa;
  • Saiba que os gostos e a aceitação de uma criança perante um alimento mudam ao longo das semanas e meses. Não lhe aconteceu já ver uma criança que adorava ervilhas num dia não conseguir comê-las no dia seguinte?
  • Muitos pais ouviram já dizer que uma criança precisa de experimentar dez vezes um alimento antes de conseguir gostar dele, mas o caso complica-se quando as crianças têm dificuldades de integração sensorial, não comeram alimentos sólidos até aos quatro anos, entre outras dificuldades;
  • Deixe a criança provar e cuspir o alimento se não gostar dele. Não faz mal, brinque com o tema e diga-lhe que agora só precisa de provar mais nove vezes.

Fonte: Katja Rowell. The Feeding DoctorLove Me, Feed Me: The Adoptive Parent’s Guide to Ending the Worry About Weight, Picky Eating, Power Struggles and More. Family Feeding Dynamics, LLC. Kindle Edition.