EM CASA
1. Casulo
2. As primeiras semanas
3. Fases na adopção
4. Retrocessos
5. Férias
6. Estratégias e ideias
As primeiras semanas
Deve lembrar-se de que tudo nas primeiras semanas é estranho para a criança: uma nova casa, novos pais, animais de estimação, um quarto só para ela, comida diferente, uma nova escola, entre tantas outras coisas. Para os pais, é necessário estabelecer rapidamente uma rotina à qual muito provavelmente não estavam habituados: cozinhar para mais gente, lavar mais roupa, tentar apaziguar a criança e compreendê-la melhor. As primeiras semanas nunca serão fáceis, mas poderão ser menos difíceis se os pais fizerem o seguinte:
SALVAGUARDAR AQUILO QUE É FAMILIAR
Procure evitar a tentação de transformar a criança, mudando a roupa, cortando-lhe o cabelo, entre outras coisas. É importante que a criança se sinta em casa, e assim, quanto mais familiares forem o ambiente e a rotina (e esta puder preservar as suas coisas), melhor será.
Não estranhe se a criança mexer em tudo o que tem em casa. É uma maneira de se situar no espaço e o compreender melhor. Esteja, contudo, preparado para lhe explicar com calma algumas regras de convivência (e para as repetir tranquilamente o número de vezes que for necessário. E, acredite, vão ser algumas).
AVISAR ANTES E OFERECER ESCOLHAS
Descobrirá rapidamente que a vida de toda a família é mais fácil quando se vai avisando a criança do que esta terá de fazer a seguir («Podes brincar mais quinze minutos e depois vamos para casa, combinado?», «Já passaram cinco minutos, tens mais dez e depois vamos para casa, sim?», etc.). Também ajuda apresentar escolhas, o que leva à diminuição das lutas por controlo e dá autonomia à criança. Por exemplo, perguntar à criança se esta prefere arrumar primeiro o quarto ou ir tomar banho pode ajudá-la a prever as tarefas e, apesar de perceber que terá de fazer as duas, isso ajudá-la-á a saber que pode decidir.
DETECTIVE
Durante os primeiros tempos, e até conhecer plenamente a criança, terá de fazer um pouco de detective até perceber o que a desestabiliza ou deixa desconfortável. Muitas crianças adoptadas têm aquilo a que se veio a chamar dificuldades de integração sensorial e, por vezes, os pediatras, por não serem especializados em adopção, podem não os detectar. Espreite a secção sobre dificuldades sensoriais e questões de saúde, pois verá que muitos dos exercícios e brincadeiras sugeridos podem ajudar os seus filhos/as (mesmo quando estes são saudáveis).
FOTOGRAFIAS DA CRIANÇA
Coloque fotografias da criança em casa para que esta as possa ver quando chegar. À medida que forem criando recordações, vá tirando fotografias, imprima-as e acrescente-as ao álbum, coloque-as no frigorífico ou emoldure-as. O objectivo é a criança sentir que a casa lhe pertence.
ROTINA
Manter a rotina que a criança tinha na casa de acolhimento ajudará a facilitar a transição e a diminuir o stress provocado pelo facto de se encontrar num sítio desconhecido. É igualmente importante que se comecem a criar as rotinas de casa e que estas se mantenham. Se a criança souber o que esperar, terá bem menos nervosismo e medo do desconhecido.
Pode ajudar fazer um horário com o que acontece em cada dia, para que a criança saiba o que pode esperar desde que acorda até se deitar. Existem calendários com íman que se podem colocar no frigorífico e para onde a criança pode olhar sempre que precisar de se situar, percebendo melhor a rotina das semanas e o que acontece ao fim-de-semana.
Estabelecer rotinas também ajuda, a longo prazo, a facilitar a transição entre actividades (vai descobrir que estas transições não são fáceis de gerir), como ir para a cama ou para o jardim de infância. O facto de a criança conseguir prever o que vai acontecer também a ajuda a organizar-se mentalmente e a diminuir o medo da imprevisibilidade.
CONSIDERAR OS COMPORTAMENTOS DIFÍCEIS COMO UMA OPORTUNIDADE
Os primeiros meses podem ser difíceis por uma variedade de razões, desde pesadelos a birras, dificuldades com a alimentação, bater, destruir coisas, etc. Quando estes comportamentos têm lugar é importante pensarem que a criança está a testar limites, a desafiar os pais (sobretudo as mães) para provocar reacções e ver se será devolvida ou abandonada novamente. É por este motivo que é bom quando os pais são capazes de manter a calma, recusando comportamentos inadequados como birras, mas sem se exaltarem ou gritarem. Considere estes comportamentos uma oportunidade. Se a criança acorda muitas vezes à noite pode aproveitar para a tranquilizar, o que ajudará a fortalecer o vínculo entre ambos. Como dissemos antes, não leve nada a peito, estes comportamentos fazem parte da normalidade adoptiva e diminuem com o tempo.
Muitos pais consideram que precisam de ser rígidos, que os primeiros meses são a sua oportunidade para educar bem a criança e estabelecer regras e limites. Gostaríamos de sugerir uma mudança de mentalidades e de aconselhar os pais no sentido de perceberem que as prioridades são:
- Conseguir provar à criança que são capazes de tomar conta das suas necessidades básicas,
- Criar a pouco e pouco memórias felizes em família.
Haverá tempo para tudo o resto.
Para que isto seja possível é necessário:
- Aprender a antecipar os comportamentos difíceis;
- Ser calmo perante estes comportamentos quando têm lugar.
- Interromper o comportamento.
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BATALHAS DE CONTROLO
Uma das maiores dificuldades que os pais adoptivos enfrentam é a de se verem na posição de terem de responder a permanentes batalhas por controlo (durante as refeições, sobre o tempo de desenhos animados, trabalhos de casa, horário de dormir, entre tantas outras pequenas decisões que se podem tornar difíceis de gerir no dia-a-dia). Estas pequenas lutas não acontecem só com crianças adoptadas. Contudo, os pais adoptivos mencionam com frequência como é difícil para uma criança adoptada aceitar o não.
Um dos melhores conselhos que os pais podem receber é o de não entrarem em lutas desnecessárias e deixarem as crianças decidir pequenas coisas ao longo do dia, como o que vestir, que quantidade comer (ler alimentação), etc. Muitas vezes, há técnicas simples que ajudam a evitar estas pequenas lutas:
- Preferes vestir o pijama azul ou o verde depois de tomares banho?
- De acompanhamento para o jantar queres arroz ou massa?
- Preferes arrumar antes ou depois do lanche?
Para uma criança adoptada, ouvir «não» confunde-se algumas vezes com «não gosto de ti» e por isso ajuda se os pais forem pacientes e atenciosos, enquanto explicam que gostam muito da criança, mas que ela não pode fazer X por este motivo. As crianças precisam de limites e de firmeza, mas não precisam que lidem com elas com autoritarismo.
TOME CONTA DE SI
No momento em que a criança chega, as necessidades dos pais passam para último lugar, mas estes devem lembrar-se de que o primeiro ano de integração da criança em casa é longo e que precisam de estar bem e tranquilos para poderem criar um ambiente feliz em casa. Procurem dormir o suficiente, ter momentos para recuperarem forças e tirarem umas horas para sair de casa e fazerem algo de que gostam. Isso ajudar-vos-á a regressar a casa mais pacientes, o que é fundamental para o bem-estar de todos.
BRINQUE COM A CRIANÇA
Brincar em conjunto é importante para todas as crianças e fundamental para as crianças adoptadas, pois ajuda-as a criar e fortalecer a vinculação. Sempre que as coisas estão difíceis em casa, recomenda-se duplicar o tempo de brincadeira (dirigido pela criança). Tire meia hora por dia e deixe ser a criança a gerir esse tempo consigo.
ESCREVA UM DIÁRIO DE MEMÓRIAS
Tome nota das interacções positivas que tem com a criança e faça um diário. Este pode ser importante nos dias mais difíceis.
VIVER O DIA-A-DIA SEM SE AFLIGIR DEMASIADO
As primeiras semanas ou meses não são fáceis e exigem que todos os membros da família se ajustem à nova realidade. A vida é mais fácil se todos tiverem expectativas mais baixas: por exemplo, um dia que corre bem é aquele em que a criança conseguiu comer um bocadinho, dormir um bocadinho, brincar um bocadinho, etc. Não vale a pena comparar a criança com outras que conhece, com os filhos/as dos seus amigos ou sobrinhos, e esperar o mesmo tipo de comportamentos. Estão a conhecer-se e isso vai levar tempo. Todos farão coisas de que uns ou outros não gostam, pelo que é importante lembrarem-se de ter paciência e reflectirem sobre como fazer melhor no dia seguinte.
FAMÍLIA E AMIGOS
Compreensivelmente, a sua família e amigos quererão estar envolvidos desde o primeiro momento. Procure explicar-lhes como, para que a vinculação tenha lugar, é importante que os pais passem os primeiros meses com a criança, sendo eles a alimentá-la e a cuidar das suas necessidades.
Isto não quer dizer, contudo, que a família e os amigos não vos possam ajudar. Pelo contrário, peçam-lhes que vos façam e levem comida, passando para a deixar, que vos comprem o que for necessário para a criança, no fundo, que vos libertem o mais possível para que tenham momentos agradáveis com a criança.