PARENTALIDADE TERAPÊUTICA
1. Compreender
2. Educar
3. Proibido para os pais
4. Proibido para as crianças
5. Comportamentos desafiantes
6. Brincadeira
7. Estratégias e ideias
Educar
Veja este vídeo da Spaulding Foundation sobre a necessidade de os pais se adaptarem às necessidades dos seus filhos (e não o contrário).
• Ser firme e impor limites de forma tranquila e gentil;
• Saber dizer que não sem se exaltar;
• Não perder a paciência;
• Dar oportunidade à criança de re-fazer (ler em baixo);
• Elogiar;
• Usar o sentido de humor.
Karen Purvis explica como: «Para sua segurança e por vários outros motivos, os pais precisam de criar regras, de estabelecer e impor limites e de tomar decisões sobre a vida familiar.
Os pais adoptivos perceberão rapidamente que o maior truque da parentalidade adoptiva consiste na implementação de uma rotina, na repetição tranquila de regras, no elogio e no re-fazer (ler em baixo).
Repetir, repetir, repetir
Sabe-se hoje em dia que a desnutrição, a privação sensorial e a negligência deixam sequelas neurológicas no cérebro das crianças, comprovadas pelos novos sistemas de neuroimagiologia. No fundo, cabe aos pais adoptivos a tarefa de ajudar as crianças a reprogramar o seu cérebro, o que leva tempo e exige paciência. A repetição de regras ajuda a redireccionar as crianças sem que estas entrem em stress ou sem que se active o modo de fuga no seu cérebro.
Elogio e dizer que não
A maioria das crianças adoptadas sente vergonha e culpa por não ter permanecido com os pais biológicos. Quando os pais adoptivos optam por apontar sistematicamente os erros à criança, em vez de valorizar aquilo que é especial nela, acabam por reforçar esta vergonha e fragilizar a sua auto-estima, tantas vezes precária.
Ao mesmo tempo, quando a criança só ouve os pais dizer «não, isso dificulta a vinculação, pelo que se devem minimizar os comentários negativos ou de correcção. Procure, assim, seguir o conselho de Karen Purvis em The Connected Child, e usar o método sanduíche: «A técnica sanduíche sugere envolver uma afirmação correctiva de duas afirmações positivas.
Isso garante que envia mais mensagens positivas do que negativas ao seu filho/a, mesmo que permaneça claramente no comando. A técnica sanduíche é uma óptima maneira de manter a criança optimista ao mesmo tempo que a leva a melhorar o seu comportamento.»
Re-fazer
Karen Purvis, em The Connected Child, o sugere uma técnica eficaz, o Re-fazer: «Re-fazer o comportamento é uma componente fundamental deste processo, porque, quando em ansiedade, as crianças recorrem ao recall muscular (a que os psicólogos chamam de “memória corporal”). A investigação sobre o pensamento de crianças muito pequenas mostrou que a memória motora pode superar a memória cognitiva, pelo que conseguir aceder à memória corporal também melhora a compreensão e a memória de crianças e adultos mais velhos. É por isso que os educadores geralmente promovem técnicas de “aprendizagem activa”. Falar, ouvir, tocar e representar são óptimas maneiras de as crianças consolidarem uma nova lição.»
Seja consistente – trabalhe em alguns comportamentos de cada vez e peça à criança para repetir o comportamento sendo gentil. Conforme a criança se torna proficiente num comportamento, comece a trabalhar em novos comportamentos. Pode haver resistência no início, mas o refazer torna-se uma solução rápida e fácil de corrigir rapidamente um comportamento.
A ligação deve surgir antes da correção – TBRI® explica que os pais não podem influenciar os seus filhos a corrigir o comportamento até que terem uma ligação com eles. Quanto maior for a ligação que tem com seu filho, melhor ele responderá à correcção.
Responda imediatamente – Para solicitar uma nova açcão, Purvis e Cross recomendam responder dentro de 3-5 segundos do comportamento, se possível.
Fique calmo – use um tom de voz e uma postura corporal calmos e amigáveis. Tente manter a interacção divertida. Desça ao nível do seu filho e mantenha contacto visual. Se confrontados com resistência, os pais podem responder com uma voz mais firme, sem serem assustadores. Se uma criança se desregular, o adulto precisará de a ajudar a acalmar antes de a criança conseguir tentar o refazer.
Não dê sermões – as crianças aprendem melhor quando os pais falam com elas ao mesmo nível. Faça as coisas de modo curto e amável. «Queres tentar dizer outra vez de modo mais gentil?»
Use uma abordagem de equipa – Os pais devem ser apoiar os filhos e a família funciona como uma equipa.
Treine – Repita até eles acertarem.
Modele o comportamento apropriado, se necessário.
Seja paciente – aprender um novo comportamento leva tempo.
Elogie – elogie o seu filho por um trabalho bem feito! High-fives também funcionam muito bem.
Avance – Pressione play e continue com as atividades diárias.
Sentar no chão
Se a criança estiver a gritar ou exaltada experimente sentar-se de forma calma no chão e esperar que ela se acalme. O comportamento humano funciona em espelho e verá que conseguirá parar a birra bem mais rapidamente e de forma não ameaçadora do que se gritar ou oferecer castigos.
Dar escolhas
Dar escolhas às crianças torna-as mais autónomas e evita as célebres batalhas por controlo. Contudo, muitos pais adoptivos confrontam-se cedo com um resultado potencialmente catastrófico de oferecer a escolha e vêem a criança entrar em colapso à sua frente, incapaz de se decidir. Esta sente que não vai acertar na escolha «certa» e o seu cérebro activa o «andar de baixo», dando-se início a uma birra terrível. Se é este o caso do seu filho/a, procure evitar as batalhas de controlo de outro modo, deixando a criança decidir, mas limitando as escolhas (por exemplo, tendo na mesa durante as refeições algo que sabe que a criança vai querer escolher). Comece por escolhas pequenas e com o passar do tempo verá que a criança se vai habituando à ideia e melhorando a sua capacidade de tomar decisões.
Consequências simples e imediatas
Por vezes, ajuda se a criança perceber que existem consequências simples para os seus comportamentos. Se houver birra no parque os pais podem tranquilamente vir-se embora com a criança e optar por fazer outra coisa em casa. Não é preciso um grande sermão ou percepcionar a ocasião como um castigo, pode-se apenas interromper a actividade quando a birra tem lugar, retomando-se no dia seguinte, lembrando a criança de forma simples: «Se há birra, saímos do parque».
Fases difíceis
Nos primeiros meses de adopção, quando há dois irmãos, quando as crianças são mais velhas ou em fases normais de regressão, poderá ter dificuldade em implementar consequências (ou ser demasiado rígido e regredir enquanto pai a comportamentos como gritar ou até bater). Nas alturas em que as crianças testam é mais importante do que nunca manter a paciência, ser consistente na aplicação das regras e prometer a si próprio que conseguirá encontrar o tempo necessário para criar momentos de lazer com a criança.
Nas fases difíceis, experimente tirar meia hora por dia (até pode cronometrar) para brincar com a criança deixando-a escolher a brincadeira e estabelecer as regras. Durante o tempo para brincadeira quem deve decidir é a criança, deixe-a tomar controlo e siga os seus passos. Verá que isto fará toda a diferença e que, mais do que castigos, recompensas ou sermões, permitirá restabelecer uma relação feliz com a criança.
Cuidado com o reforço variável
O facto de não sermos apologistas de castigos, de gritar, de bater ou de grandes sermões não significa que não existam regras e que elas não tenham de ser cumpridas. Uma das coisas a evitar é o reforço variável, ou seja, quando num dia se impõem regras e no outro não, quando num dia as consequências são umas e no dia seguinte outras. É importante, até porque é isto que a criança deseja verificar, que as consequências sejam sempre as mesmas para as mesmas coisas. Esta previsibilidade ajuda a criança a saber o que esperar na sua nova casa. Como afirma Purvis: «Os pais não devem ser nem muito rígidos e controladores, nem permissivos e indulgentes.» Aqui fica o seguinte teste, elaborado por Purvis no seu livro, para ajudar os pais a verificarem o seu comportamento:
É muito permissivo e indulgente se. . .
• Faz regras e promessas e depois não as aplica;
• Zanga-se, zanga-se, zanga-se, mas não aplica as regras;
• Espera demasiado para se impor e depois explode com raiva;
• Implora ao seu filho/a que coopere;
• É o seu filho/a quem decide se e quando as coisas serão feitas;
• Pergunta ao seu filho/a “O que queres?” com mais frequência do que lhe diz o que deve acontecer;
• Permite que o seu filho/a o magoe fisicamente ou a outras pessoas;
• Costuma fingir que não percebe o mau comportamento ou o desrespeito;
• Se o seu filho/a não tem consequências negativas quando fala mal de si;
• Se o seu filho/a não leva as suas palavras a sério;
• Se o seu filho/a lhe fala com falta de respeito.
É muito rigoroso e controlador se. . .
• Diz ao seu filho/a “Não” com mais frequência do que o elogia;
• Diz ao seu filho/a “Não” com mais frequência do que lhe mostra afecto;
• Diz constantemente ao seu filho/a o que fazer e não lhe dá a oportunidade de fazer escolhas ou concessões;
• Interrompe as expressões de tristeza ou desilusão do seu filho/a;
• Ignora ou menospreza o ponto de vista da criança;
• Usa punições, vergonha e insultos para conseguir que a criança faça coisas;
• Não passa uma hora sem encontrar falhas no seu filho/a.
Está a alcançar o equilíbrio certo se. . .
• Depois de fazer uma regra ou uma promessa, é capaz de a aplicar;
• Usa o “poder de fogo” o mínimo necessário para corrigir o mau comportamento. Sempre que possível, use a gentileza e a brincadeira para lhe explicar a sua perspectiva;
• Dá elogios e faz declarações positivas ao seu filho/a cinco vezes mais frequentemente do que usa declarações correctivas;
• Vê o seu filho/a fazer coisas bem;
• Diz várias vezes ao dia quão preciosa e querida a criança é para si;
• Deixa o seu filho/a decidir entre escolhas;
• Compromete-se com o seu filho/a;
• Aceita e respeita as expressões de tristeza ou de desilusão;
• Quando a criança reconhece que os pais são “o chefe” e que têm a palavra final, mas não têm medo deles.»
Fonte: Karen Purvis, The Connected Child. NY: McGraw-Hill Education, 2007.
Fichas de apoio
Ser pai ou mãe da criança que foi adoptada e se encontra em idade pré-escolar, Child Welfare Information Gateway.
Ser mãe / pai de uma criança adoptada em idade escolar, Child Welfare Information Gateway.
Ser pai / mãe do adolescente adoptado, Child Welfare Information Gateway.
Parenting After Trauma, Understanding your Child’s Needs, American Academy of Pediatrics.
Parenting a child or youth who has been sexually abused: A guide for foster and adoptive parents. Child Welfare Information Gateway.
The Healing Power of “Giving Voice”, Adoption Advocate, National Council for Adoption.
Leituras em português:
Daniel J. Siegel, Tina Payne Bryson, O Cérebro da Criança: 12 estratégias revolucionárias para treinar o cérebro do seu filho/a. Lisboa: Casa das Letras, 2018.
Daniel J. Siegel, Tina Payne Bryson, Disciplina sem Dramas. Lisboa: Casa das Letras, 2011.
Philippa Perry, O Livro que Gostaria que os Seus Pais Tivessem Lido
(e que os seus filhos agradecem que leia também). Lisboa: Arena, 2020.
Recursos importantes noutras línguas:
Practical Tips for Disciplining While Maintaining Attachment, site Creating a Family.
Lisa Qualls, The Connected Parent, Real-Life Strategies for Building Trust and Attachment. NY: Harvest House Publishers, 2020.
Foster Cline, Parenting with Love and Logic. NY: NavPress, 2006.
Outros sites:
Parentalidade positiva, Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens.
Dicas Adélia, Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens.
Escola Saudavelmente, Ordem dos Psicólogos.