Ética e acolhimento

 

O acolhimento não é um caminho fácil, mas pode ser imensamente compensador para todos os envolvidos: família de acolhimento, família biológica, equipas e, sobretudo, para a criança. Se todos procurarem compreender-se, ouvir as necessidades uns dos outros, aprenderem a improvisar, ser pacientes e mudar de planos, podem construir uma relação duradoura e de entre-ajuda.

É importante, contudo, que a família de acolhimento e biológica estejam conscientes das implicações, tanto positivas como negativas, que o acolhimento tem na vida da criança. Por um lado, este protege a criança numa altura difícil e dá tempo à família biológica para se organizar, por outro leva a uma mudança de vida que é sempre penosa.

Proteger a criança deve ser a prioridade de todos nesta altura, e para tal, adultos que viveram em casas de acolhimento durante um período ou que nelas cresceram foram pensando num conjunto de máximas que lhes parecem fundamentais. As preocupações dos adultos que viveram em acolhimento não são estanques, e aquilo que se considera ética e acolhimento tem vindo a mudar, mas de momento são estes são os temas mais importantes.

DIREITO A SER AMADO

Todas as crianças têm direito a uma família que goste profundamente delas e que as aceite como são. Este é um dos aspectos mais bonitos do acolhimento: a capacidade de aprendermos a gostar imensamente de alguém diferente de nós, em vez de o\a tentarmos moldar à nossa imagem.

TRÍADE

Esta é composta pela criança, pela sua família de origem e pela família de acolhimento. Todos têm o direito de ser tratados com respeito.

SEGREDOS E MENTIRAS

Uma criança tem o direito a compreender a sua história, contada de forma adequada à sua idade, e com pormenores que vão sendo dados à medida que cresce. Todas as partes do processo devem ser tratadas com respeito, mas não se devem esconder da criança dados importantes sobre a sua vida.

DIREITO ÀS SUAS MEMÓRIAS

Conhecer a sua história médica é útil por razões de saúde. A família de acolhimento também deve guardar as notas escolares da criança, os seus desenhos, etc. de modo a assegurar-se de que esta terá um dia acesso à história do que aconteceu quando passou um período da sua vida longe da família biológica ou nas situações de separação definitiva.

CONFIDENCIALIDADE

Muitas vezes, a família de acolhimento não se lembra de que a história das crianças é confidencial e privada, não devendo ser divulgada nem à família próxima, nem a amigos chegados. Quando a criança for mais velha, se assim o desejar, poderá contar o que quiser. O direito à privacidade tem sido uma das maiores lutas das crianças institucionalizadas ou em acolhimento.

ACESSO À INFORMAÇÃO

Os adultos que foram adoptados em criança ou que viveram em instituições de acolhimento têm lutado pelo acesso à informação sobre o seu passado e aos processos redigidos pelas equipas de adopção. Esta informação é útil por motivos médicos, mas não só; compreender e conhecer as suas raízes é da maior importância para alguém que foi adoptado.

SEGREDOS E MENTIRAS

Uma criança tem o direito a compreender a sua história, contada de forma adequada à sua idade, e com pormenores que vão sendo dados à medida que cresce. Todas as partes do processo devem ser tratadas com respeito, mas não se devem esconder da criança dados importantes sobre a sua vida.

COMUNIDADE LGBTQ

Apesar de os estudos que demonstram que não existem, para a criança, quaisquer diferenças entre serem educadas por pais entre a comunidade LGBT ou por casais heterossexuais serem inúmeros, existem ainda muitas vezes preconceitos neste sentido. Seria importante manter o princípio legal da não discriminação e pensar no interesse da criança.

COMPETÊNCIA RACIAL E CULTURAL

A família de acolhimento tem a obrigação, no caso de receber uma criança de outra raça ou cultura, de a ajudar a compreender melhor o que são a identidade racial e o racismo. Os adultos que viveram com uma família de acolhimento que não partilha a sua identidade racial ou cultural têm explicado como lhes é difícil sentirem-se incluídos na cultura de quem os acolheu. Esta sensação de não pertença, e por vezes de vergonha ou rejeição da sua cor de pele, pode surgir durante a infância, na adolescência e na idade adulta. Cabe à família de acolhimento perceber que é no melhor interesse da criança (e que esta tem o direito) frequentar uma escola onde existem outras crianças que partilham a sua identidade racial ou cultural, ter mentores da mesma raça, ler livros com personagens que pertencem à mesma raça da criança, encontrar brinquedos e desenhos animados que sejam representativos da sua identidade, etc., para que esta não cresça com vergonha, e sim com orgulho. Os adultos em acolhimento rejeitam o antigo princípio de “color blindness” (a ideia de que a cor não é importante) e preferem pensar e ensinar a ideia de não discriminação. Ler aqui.