Abuso sexual

 

Muitas vezes, o abuso sexual não é descoberto até as crianças estarem na família há algum tempo. É quando estas se sentem seguras que começam a contar o que lhes aconteceu. É difícil para os pais lidar com a história passada de abuso das crianças e com os comportamentos sexualizados que algumas crianças podem apresentar.

Aprender a lidar com comportamentos sexualizados em crianças pequenas não é uma tarefa fácil e os pais devem procurar ajuda especializada, encontrando um psicólogo que possa acompanhar a criança. Com alguma frequência, os pais vão perceber que também eles precisam de apoio para compreenderem melhor a situação e encontrarem estratégias para lidar com estes comportamentos de forma segura para a criança e para aqueles que se encontram à sua volta.

O abuso sexual tem sido apontado como uma das principais causas de dissoluções na adopção. É importante não estigmatizar a criança, bem como procurar compreender a origem destes comportamentos e desmistificar algumas ideias.

O QUE É ABUSO SEXUAL INFANTIL?

Considera-se abuso sexual infantil qualquer interacção entre uma criança e um adulto (ou outra criança) em que a criança é usada para a estimulação sexual do agressor ou observador. O abuso sexual pode incluir comportamentos de toque e não toque. Os comportamentos de toque podem envolver o toque na vagina, pénis, seios ou nádegas, contacto oral-genital ou relação sexual. Os comportamentos de não toque podem incluir voyeurismo (tentar olhar para o corpo nu de uma criança), exibicionismo ou expor a criança à pornografia. Os abusadores geralmente não usam força física, mas podem usar brincadeiras, engano, ameaças ou outras formas de coerção para envolver as crianças e fazê-las guardar silêncio. Os abusadores utilizam com frequência tácticas persuasivas e manipuladoras para envolver a criança. Essas tácticas de aliciamento ou sedução (grooming) podem incluir a compra de presentes ou a organização de actividades especiais, o que pode confundir ainda mais a vítima.

QUEM É SEXUALMENTE ABUSADO?

Crianças de todas as idades, raças, etnias e classes sociais são vulneráveis ao abuso sexual. O abuso sexual infantil afecta raparigas e rapazes, em todos os tipos de bairros e comunidades.

COMO SE PODE SABER CRIANÇA ESTÁ A SER (OU FOI) SEXUALMENTE ABUSADA?

As crianças que foram sexualmente abusadas podem apresentar uma série de reacções emocionais e comportamentais, muitas das quais são características de crianças que sofreram outros tipos de trauma. Essas reacções incluem:

  • Pesadelos e / ou outras dificuldades para dormir;
  • Comportamento retraído;
  • Explosões de raiva;
  • Ansiedade;
  • Depressão;
  • Não querer ficar sozinho com determinados indivíduo(s);
  • Conhecimento sexual, linguagem e / ou comportamentos inadequados para a idade da criança.

Mitos e factos

1

MITO:
As crianças que foram vítimas de abuso sexual nunca recuperam.

FACTO:
As crianças são resilientes e, com uma combinação de aconselhamento psicológico e apoio eficaz dos seus pais ou responsáveis, as crianças podem recuperar, e recuperam, destas experiências.

2

MITO:
Falar sobre abuso sexual com uma criança que foi vítima só vai piorar as coisas.

FACTO:
Embora as crianças muitas vezes optem por não falar sobre o abuso, não há provas de que encorajar as crianças a falar sobre o abuso sexual faça com que se sintam pior. Pelo contrário, o acompanhamento de um psicólogo pode minimizar os problemas físicos, emocionais e sociais destas crianças, permitindo que processem os seus sentimentos e medos relacionados com o abuso.

3

MITO:
Todas as crianças com problemas de comportamento sexual se tornam agressores sexuais.

FACTO:
As crianças que recebem tratamento para os seus problemas de comportamento sexual raramente cometem crimes ou abuso sexual quando são adultos. Um estudo acompanhou um grupo de crianças ao longo de 10 anos depois do tratamento. A grande maioria (98%) não cometeu crimes sexuais de qualquer tipo, e o grupo como um todo não tinha mais probabilidade de cometer crimes sexuais do que as crianças com um passado de apenas problemas de comportamento não sexual.

Perguntas e respostas

P: Qual é o impacto psicológico do abuso sexual infantil?

R: A curto prazo, não é incomum que uma criança desenvolva algumas reacções de stress pós-traumático que melhorarão com tratamento. Outras – especialmente aquelas que sofreram traumas múltiplos e receberam pouco apoio dos pais – podem desenvolver transtorno de stress pós-traumático, depressão e ansiedade. A sua capacidade de confiar nos adultos para cuidarem de si também pode ser afectada. Infelizmente, quando as crianças não revelam o abuso sexual e / ou não recebem aconselhamento eficaz, podem ter dificuldades no futuro.
Por outro lado, as crianças que contam com o apoio de um cuidador compreensivo e tratamento eficaz recuperam sem efeitos de longo prazo.

P: Quais são os sinais de reacções de stress pós-traumático?

R: Há três tipos de sintomas que ocorrem nas reacções de stress pós-traumático:

A hiperexcitação significa que a criança está nervosa e sobressaltada, tem uma resposta de susto intensificada e pode reagir com mais força a qualquer situação que lhe cause ansiedade.

Reviver significa que a criança pode continuar a ver imagens mentais relacionadas com o abuso, ou a reviver alguns aspectos da experiência, enquanto está acordada ou durante o sono, na forma de pesadelos. Uma criança pode ter outros distúrbios do sono, como insónias ou acordar frequentemente. As crianças mais novas são mais propensas a ter medos generalizados ou pesadelos sobre outras coisas assustadoras, como monstros que os perseguem. Com uma criança mais velha é mais provável que os pesadelos estejam directamente relacionados com o trauma.

A reexperiência também inclui reacções a lembranças traumáticas: que podem ser qualquer coisa, pessoa, acontecimento, visão, cheiro, etc., relacionada com o abuso. Por exemplo, se o agressor tiver barba, a criança pode começar a sentir-se assustada e desconfortável, geralmente sem saber por que motivo, perto de qualquer homem com barba. Até mesmo ser tocada por outra pessoa se pode tornar um acontecimento traumático.

Evitamento: significa que a criança evita a exposição a lembranças traumáticas e, às vezes, evita pensar totalmente no abuso. Por exemplo, se o abuso ocorreu numa cave, a criança pode evitar entrar em qualquer cave. As reacções – e o evitar lembranças traumáticas – podem tornar-se generalizadas. Uma criança pode começar por ter medo de uma cave específica, e este medo pode generalizar-se a reacções ter receio de entrar em qualquer cave. Este evitar pode restringir seriamente as actividades de uma criança – um motivo importante para procurar ajuda desde o início.

P: Que outros comportamentos relacionados com o trauma se podem observar numa criança pequena ou em idade escolar?

R: Numa criança muito pequena, pode assistir-se à reencenação de algum aspecto da experiência. Por exemplo, uma criança pode fingir que foge de um “homem mau” repetidamente. A reencenação pode ou não ser específica ao abuso sexual. Podem ver outros sinais de stress, um aumento no comportamento de oposição ou afastamento, acessos de raiva ou pesadelos. A criança pode ter um comportamento sexual impróprio para a idade, como tentar envolver outra criança em contacto oral-genital ou na simulação de relação sexual. A criança pode dizer que o seu corpo está “magoado” ou “sujo”.

Quando a criança apresenta comportamentos sexualizados, os pais podem sentir uma série de coisas e ser-lhes difícil saber o que fazer. Estas incluem:

  • Dificuldade em acreditar que o comportamento sexualizado teve realmente lugar;
  • Raiva – do seu filho, das outras crianças envolvidas, de si mesmo e do mundo em geral;
  • Sentir-se zangado/a ou com vontade de se afastar da criança;
  • Tristeza e depressão;
  • Culpa e vergonha;
  • Isolamento;
  • Sentir-se desapontado consigo e com a criança;
  • Confusão e incerteza, especialmente se os motivos pelos quais a criança age de forma sexualizada não forem claros;
  • Pesadelos e outras reacções de stress pós-traumático, especialmente se foi vítima de abuso sexual em criança.

Qualquer que seja a sua reacção, saiba que – com apoio – tanto os pais como as crianças podem superar este momento difícil. Não está sozinho – muitos outros pais tiveram de lidar com os comportamentos sexualizados dos filhos e sentiram emoções e reacções semelhantes. Os comportamentos sexuais problemáticos das crianças respondem muito bem ao tratamento – particularmente quando os cuidadores estão activamente envolvidos neste – podem-se evitar futuros problemas de comportamento sexual.

Tendo isto em mente, é importante que os pais montem uma rede de apoio, constituída por pessoas compreensivas, conhecedoras do impacto do trauma na criança, e que seja capaz de os ajudar.

Fontes: What parents need to know about sexual abuse, The National Child Traumatic Network; Understanding and Coping with Sexual Behavior Problems in Children, The National Child Traumatic Network.

FICHA DE APOIO

Ser pai / mãe de crianças ou jovens sexualmente reactivos, Monica Cohu, Summer 2017, Adoptalk.

RECURSOS NOUTRAS LÍNGUAS

Safety Planning, National Center on the Sexual Behavior of Youth.

Helping Children Heal From Sexual Abuse, site Creating a Family.