Trauma

 

«As crianças estão a fazer o melhor que sabem.»

Para começar a saber mais sobre trauma veja os seguintes vídeos, criados pela Spaulding Foundation. Neles, especialistas sobre o tema descrevem o impacto que o trauma pode ter no desenvolvimento do cérebro das crianças, dando conselhos às famílias adoptivas e de acolhimento. Os vídeos têm também testemunhos de pais adoptivos e dos seus filhos, de famílias de acolhimento e dos jovens que estas acompanharam.

Um acontecimento traumático é aquele que ameaça a integridade física de uma pessoa ou de alguém que lhe é próxima. Há muitas coisas que podem causar um trauma, desde um acidente de carro a um tsunami, desde ficar subitamente doente a assistir à doença de alguém querido, entre outros acontecimentos que causam sensações de medo, terror ou a ideia de que estamos sozinhos e de que ninguém nos pode ajudar.

Sabe-se que todas as crianças que foram adoptadas ou que viveram em acolhimento tiveram experiências de trauma ou adversidade, com a agravante de que muitas delas foram expostas ao trauma ao longo de um período alargado de tempo (como sucede, por exemplo, a uma criança que testemunha violência doméstica, é alvo de maus-tratos ou vive numa situação de guerra).

Apesar de se saber que as consequências do trauma variam de criança para criança (dependendo do tempo a que foram sujeitas à vivência traumática, da idade que tinham e do apoio que receberam), hoje em dia os avanços na ciência demonstraram que o trauma, os maus-tratos e a negligência podem provocar alterações no cérebro em desenvolvimento.

Os pais precisam de se informar e de conhecer as eventuais consequências do trauma no desenvolvimento da criança e de aprender a identificar comportamentos que resultam de experiências de trauma.

É com alívio que muitos pais relatam que começaram a compreender melhor os seus filhos e as suas reacções por vezes desafiantes ou estranhas, o que lhes permitiu encontrar estratégias de parentalidade adequadas. Isto leva a que os pais se sintam menos frustrados com os filhos e aprendam a reprogramar lentamente o cérebro da criança.

«Deve partir-se do princípio de que todas as crianças que foram adoptadas ou estiveram em acolhimento sofreram experiências de trauma».

 

COMO RESPONDER:

As respostas calmas e consistentes de um cuidador à criança são o que lhe oferece a hipótese de se estabilizar e curar. É importante explicar às famílias que, por mais preocupante que seja o comportamento dos seus filhos/as, este representa uma reacção normal a ameaças não saudáveis.

Embora os distúrbios do sono e a agressividade possam ser problemáticos num ambiente doméstico actual, esses comportamentos podem ter sido protectores numa casa onde os pais bebiam à noite e se tornavam violentos. O pediatra e a família devem explicar à criança que essas respostas e comportamentos são normais e esperados. O cérebro e o corpo estão a fazer exactamente o que devem para manter a criança traumatizada em segurança. As respostas da criança indicam que está a fazer o melhor que pode com as únicas ferramentas que possui. Com tempo, paciência e prática, o cérebro e o corpo da criança aprenderão novas maneiras ​​de responder a um ambiente novo e mais seguro».

Fonte:

Ajudar as famílias adoptivas e de acolhimento a lidar com o trauma, American Academy of Pediatrics.

«Quando as crianças sofreram experiências de trauma, as abordagens convencionais para educar os filhos/as têm de ser revistas e são necessárias capacidades parentais diferentes. Existe um conjunto significativo e crescente de provas que demonstram conclusivamente que os modelos convencionais de “parentalidade”, particularmente os que se baseam em castigos, não funcionam para muitas crianças adoptivas e podem causar ou agravar os danos associados a experiências de trauma anteriores.

Beauchamp (2014) observa que as estratégias bem-sucedidas de parentalidade em vários esquemas de apoio pós-adopção são aquelas que se concentram na parentalidade baseada na não punição. As técnicas tradicionais de parentalidade podem não funcionar, e os pais adoptivos podem precisar de desenvolver estratégias alternativas de parentalidade quando desempenham o seu papel de “pais terapêuticos” para crianças que foram traumatizadas”» (Pennington 2012: 12).

Além disso, investigações recentes demonstraram que as crianças que foram vítimas de abusos sistemáticos também podem ter dificuldades em receber afecto e obter conforto e segurança dos pais que delas cuidam (Selwyn et al 2014).

Algumas noções tradicionais sobre o que é a afectividade e sobre pais que são emocionalmente afectivos (que apreciam o contacto físico e abraços) podem levar certas crianças a revisitar traumas passados. Alguns estudos identificam que, para as crianças adoptivas, a “parentalidade com senso comum” é menos eficaz ou ineficaz (Peterson 2012).

Embora não seja possível definir com rigor o que seriam pais apropriados num contexto de adopção, porque todos os pais e todas as crianças são diferentes, os resultados da investigação sublinham que o horizonte emocional para as crianças que vivem a adopção é inerentemente mais complexo e requer um conjunto único de capacidades parentais.»

FICHAS DE APOIO

Compreender as consequências dos maus-tratos no cérebro, Child Welfare Information Gateway.

Ajudar as famílias adoptivas e de acolhimento a lidar com o trauma, American Academy of Pediatrics.

FICHAS DE APOIO NOUTRAS LÍNGUAS

Helping Your Child Heal From Trauma, Child Welfare Information Gateway (disponível em Português em breve).

Trauma Guide: Toolbox for Primary Care, American Academy of Pediatrics (textos em Inglês e Espanhol).