Mães e pais de acolhimento

 

Sabe-se que os acolhedores não são iguais nos primeiros meses de chegada da criança, nem durante algum tempo. No acolhimento, as figuras masculinas podem ter alguma vantagem e é importante que o casal tenha consciência disto, unindo-se, apoiando-se e procurando melhores soluções.  É difícil determinar os motivos pelos quais a relação das crianças com a figura materna é mais difícil do que com a da figura paterna. Alguns autores, como Nancy Verrier, em The Primal Wound, consideram que o abandono materno deixa, mesmo que tenha sido à nascença, uma espécie de ferida invisível (Ler aqui). Estudos realizados a bebés separados à nascença das mães verificaram diferenças no grito dos recém-nascidos relativamente ao dos bebés que continuam a ter as mães presentes.

Johanne Lemieux sugere que o facto de os cuidadores nas casas de acolhimento serem maioritariamente mulheres aponta para um segundo nível de abandono, pelo que a criança, mesmo que inconscientemente, acabará por associar a figura da mãe ao eventual abandono, testando-a mais do que ao pai.

Apesar de haver menos estudos neste campo sobre o papel do cuidador e da cuidadora numa família de acolhimento, é natural que o mesmo suceda na família. O casal deve ter consciência de que a criança, principalmente se for mais velha, irá desafiar mais a mãe de acolhimento do que o pai. O facto de a criança testar a mãe não significa que esta esteja a fazer algo errado ou que seja uma mãe incompetente (apesar de os desafios da criança a poderem levar a pensá-lo). É por isso que é importante que o pai não ponha em causa a relação da mãe com a criança, unindo-se os cônjuges na procura de soluções e conversando com a criança. No caso das mães, é importante que não levem as reacções da criança a peito e as considerem parte normal do processo de acolhimento. Com paciência verá que tudo melhora.

A família de acolhimento ainda tem o desafio acrescido de mais tarde ou mais cedo ouvir dizer: “Tu não mandas em mim, não és a minha mãe verdadeira”. Perante esta afirmação a família deve agir com toda a tranquilidade e confirmar a veracidade da afirmação. “Tens razão, não sou a tua mãe. Mas gosto muito de ti e estou aqui para te ajudar sempre que for preciso. Não me queres dar uma ajuda e fazer aquilo que peço?”. Lembre-se de que vai ser preciso paciência e sentido de humor. Outra resposta pode ser: “Pois não (risos), a tua mãe é bem mais bonita que eu. Mas ainda assim não me queres ajudar e fazer o que te peço?”.

A criança rejeita um membro da família

Por vezes, a criança vincula-se a um dos pais, mas não ao outro. Em acolhimento, pode dar-se o caso de a criança ter medo de um dos membros do casal (que lhe pode fazer lembrar alguém que a tratou mal). Não leve a situação a peito. Seja calmo e tranquilo, o tempo ajuda. Para incentivar a vinculação, deve-se deixar-se a criança brincar com o cuidador com o qual está a ter mais dificuldades. Este não deve impor disciplina e concentrar-se no tempo de brincar durante uma ou duas horas. Por vezes pode levar tempo, mas a vinculação terá lugar quando o cuidador que não é privilegiado assume cuidados como a alimentação e brinca com a criança.