Tome conta de si

 

Se as famílias de acolhimento tivessem um lema, este provavelmente seria “primeiro as crianças”. Ou talvez “as crianças e as suas famílias em primeiro lugar”. Qualquer um seria apropriado. Os pais adoptivos, de acolhimento e os cuidadores com laços de parentesco com a criança fazem o que fazem porque querem ver as crianças e as suas famílias a felizes e a prosperar. A sua principal preocupação consiste no bem-estar dos outros. Precisam, contudo, de ter cuidado. Responder às necessidades das crianças de quem tomam conta pode consumi-las tanto que às vezes se colocam a si mesmas e às suas necessidades em último lugar.

Isso é, claramente, um erro. Para serem saudáveis, as crianças precisam de famílias saudáveis, mas quando nos negligenciamos, podemos subitamente descobrir que estamos sobrecarregados, exaustos, esgotados, frustrados, zangados, ressentidos e incapazes de ter alegria no bom trabalho que fazemos.

  • Sentir-se mental ou fisicamente exausto ao longo do dia;
  • Usar álcool, comida, cafeína ou outras substâncias para combater a sensação de estar sobrecarregado;
  • Dormir muito ou pouco;
  • Sentir-se insatisfeito com o seu trabalho;
  • Sentir-se entorpecido e distanciado dos outros ou da sua própria vida;
  • Sentir-se mal-humorado, descarregando na criança ou no seu parceiro.
  • Apanhar todas as constipações que surgem, ter dores de cabeça ou dores de estômago frequentes.

Quando estes sinais começam a surgir, é provável que também comecemos a deixar de prestar os cuidados consistentes, previsíveis, enriquecedores e nutritivos de que as crianças nas nossas casas precisam. Por isso, é importante que os acolhedores se coloquem em primeiro lugar, tomando conta de si, para que consigam voltar a ser quem eram. Ter cuidado connosco também nos pode impedir de chegar a esse ponto em primeiro lugar.

BARREIRAS COMUNS AO AUTOCUIDADO NOS PAIS DE ACOLHIMENTO

Concentração nas necessidades dos outros. Na sua maioria, os pais adoptivos e de acolhimento dedicam muito mais energia às necessidades dos outros do que ao seu próprio bem-estar. De facto, muitos sentem-se desconfortáveis ​​quando recebem atenção e auxílio de outras pessoas.

Trabalho. Muitos cuidadores gostam de estar lá para os outros, querem lembrar-se dos aniversários fazendo um bolo, querem ajudar na sua igreja ou cozinhar uma refeição a um amigo doente. Por isso, trabalham sempre mais e mais.

Incerteza. Muitos cuidadores não sabem simplesmente como é importante tomarem conta de si. Sabem que algo lhes falta, mas não conseguem identificar exactamente o que pode fazer com que se sintam melhor.

Negação. Muitos cuidadores acreditam que de alguma forma não precisam ou não deviam precisar de apoio.

Minimização / sentimentos de não se ser merecedor. Os desastres naturais e os provocados pelo homem, bem como outros acontecimentos terríveis nas notícias lembram-nos de que hás sempre outras pessoas em pior situação. Somos ensinados em crianças a ser felizes com aquilo que temos, já que as outras pessoas têm mais dificuldades. Como resultado, às vezes sentimo-nos culpados quando o nosso stress e lutas empalidecem em comparação.

BARREIRAS AO AUTOCUIDADO

Sabemos que devemos exercitar, comer bem e fazer as “outras coisas” necessárias para cuidar de nós mesmos, mas a vida familiar pode ser caótica e exigente. Quando se juntam adiciona as visitas dos pais biológicos, consultas de terapia, reuniões escolares, exames médicos e outras coisas que é preciso fazer, é fácil esquecermo-nos de que precisamos de tomar conta de nós.

Quando apagam a luz no final do dia, muitos pais de acolhimento pensam melancolicamente para si mesmos: “Talvez eu consiga tirar um momento de silêncio para mim amanhã”.

 

O AUTOCUIDADO É UM TALENTO

Uma coisa a ter em mente sobre o autocuidado é que é um talento – algo que pode treinar e melhorar. Vai cometer erros ou escorregar, mas se insistir, este tornar-se-á mais fácil e uma parte natural da sua vida diária.

NOÇÕES BÁSICAS DE AUTOCUIDADO

Imagine que é um pai ou uma mãe que não está a fazer nada para tomar conta de si. Por onde deve começar? Aqui estão algumas práticas básicas de autocuidado que devem fazer parte da vida de todas as pessoas:

  • Durma o suficiente na maioria das noites;
  • Coma uma dieta saudável e equilibrada, incluindo o pequeno-almoco. Evite comer rapidamente, atrás da mesa ou no carro;
  • Faça exercício regularmente;
  • Visite o médico e siga as suas recomendações;
  • Consuma álcool com moderação, ou não use;
  • Faça pausas regulares em actividades stressantes. A parentalidade sem parar pode ser uma actividade stressante. Encontre uma maneira, de alguma forma, todos os dias, de ter pelo menos alguns minutos para si mesmo;
  • Tome um banho relaxante, leia um livro, sente-se na varanda, tome uma chávena de chá;
  • Ria todos os dias;
  • Expresse-se. Se se estiver a sentir frustrado, triste ou com raiva, seja honesto com as suas emoções antes de elas descontrolarem. Diga às crianças ou ao seu cônjuge calmamente que está zangado antes de sair do controlo. Manifeste também aquilo que é positivo, reservando tempo para se envolver em algo de que gosta, como o artesanato, jogo, escrita, pintura ou desporto;
  • Cultive os a relação com o seu parceiro, com a família e os amigos. Tenha um passatempo ou faça uma aula, faça uma massagem ou saia com os amigos;
  • Deixe alguém fazer algo para cuidar de si.

Ao cuidarmos de nós mesmos, tornamos mais fácil enfrentar os desafios que surgem quando tomamos conta de crianças que sofreram trauma.

CRIAR UM PLANO PARA TOMAR CONTA DE SI

Estabelecer metas pode ajudá-lo tomar conta de si. Considere criar um plano por escrito. O objectivo é o de manter um equilíbrio entre o trabalho e a capacidade de relaxar entre os seus compromissos para com os outros e consigo mesmo.

O seu plano deve incluir actividades que faz apenas por diversão. Também deve incluir algo que lhe permita regular ou gerir o stress, como uma actividade física de que goste, meditação ou ioga.

O seu plano deve elecar as coisas que planeia fazer diariamente ou semanalmente / mensalmente. Ao elaborar o plano, tenha cuidado para incluir coisas razoáveis ​​– aquilo que pode realmente fazer – e que são apenas para si. O quadro em baixo mostra um exemplo:

Prometo arranjar tempo para tomar conta de mim, fazendo pelo menos o seguinte:

Diariamente

  • Passear o cão
  • Brincar com o gato
  • Exercício
  • Rezar / meditar
  • Ler um livro
  • Escrever no diário
  • Ouvir música no carro

Semanal ou Mensal

  • Bom jantar com o meu cônjuge/ parceiro/ amigos
  • Manicure, pedicure, etc.
  • Sair com amigos
  • Participar numa reunião do grupo de apoio
  • Ir ao cinema
Nota: O seu plano deve incluir apenas alguns itens nas categorias diária e semanal / mensal – e não muitas!

 

E lembre-se, o melhor plano do mundo só funcionará se estiver realmente disposta a cumpri-lo. Coloque deliberadamente o seu plano de autocuidado num lugar em que possa vê-lo e como lembrança do seu compromisso em cuidar bem de si mesmo, para poder tomar bem conta dos outros à sua volta.