Trauma secundário

 

Tomar conta de crianças que sofreram trauma, negligência ou abuso não é uma tarefa simples, exigindo que a família de acolhimento tenha calma, paciência e autocontrolo nas suas reacções, o que muitas vezes tem um custo para o cuidador.

Ao mesmo tempo, parece irreal esperar que a família conviva diariamente com uma criança traumatizada sem deixar que a sua história a afecte.

Em secções anteriores, falou-se sobre o papel do trauma nas crianças, dando algumas sugestões às famílias sobre como lidar com ele. É, contudo, igualmente importante para a família de acolhimento conhecer e compreender o impacto do stress, para que aprendam a cuidar de si e a recuperar-se.

Stress Traumático Secundário, traduzido de “Resource Parent Self-Care and Secondary Traumatic Stress

→ O que uma criança lhes diz ou o que ouvem dizer;

→ Das brincadeiras da criança, dos seus desenhos ou histórias escritas;

→ Das reacções da criança às lembranças do trauma;

→ Da cobertura dos media a relatos de casos ou de outros documentos sobre trauma.

As reacções da família de acolhimento a essas coisas podem variar. Alguns ficam preocupados ou comovidos com o que ouvem e vêem, mas são capazes de continuar como antes. Outros podem começar a sentir sinais de STS. Esses sinais podem incluir imagens intrusivas; nervosismo ou agitação; dificuldade em concentrar-se ou em ouvirem certas coisas; pesadelos ou insónias; entorpecimento emocional; sentimentos de desespero ou desamparo; raiva (por exemplo, relativamente às famílias biológicas, à sociedade etc.); e sentirem-se desligados dos entes queridos.

Como acontece com o trauma primário, o stress traumático secundário pode mudar a maneira como vê e sente o mundo e pode fazer com que:

  • Deixe de ter perspectiva e se identifique demasiado com a criança;
  • Responda de forma inadequada ou desproporcional (por exemplo, pode tentar sobreproteger a criança de possíveis lembranças do trauma;
  • Afastar-se emocionalmente da criança;
  • Fazer um grande esforço para evitar uma maior exposição ao trauma da criança (por exemplo, tentar nunca ficar sozinho com a criança).

Se não for tratado, o STS pode atrapalhar vidas, sentimentos, relacionamentos pessoais e até pôr em causa o acolhimento de crianças.

QUANDO SE TEM UM TRAUMA NÃO RESOLVIDO

Quando um acolhedor sofreu trauma no passado (por exemplo, perda de um membro da família, morte de um amigo próximo, abuso físico ou emocional, violência doméstica) e este não foi totalmente resolvido, estes podem ser mais vulneráveis ​​ao STS. A dor das experiências passadas dos pais de acolhimento pode ser “despertada” pela exposição a crianças que passam por situações semelhantes. Como resultado, podem ter problemas em diferenciar a sua experiência da da criança ou esperar que esta lide com o trauma da mesma maneira que eles o fizeram.

Aqui estão algumas sugestões para que o podem ajudar quando o trauma de uma criança lhe traz lembranças:

  • Reconheça a ligação entre o trauma da criança e a sua própria história;
  • Distinga os sentimentos que pertencem ao presente dos que ficaram no passado;
  • Seja honesto: consigo mesmo, com a criança e com a equipa que acompanha o acolhimento;
  • Obtenha apoio, incluindo tratamento focado no trauma. Nunca é tarde para procurar ajuda;
  • Reconheça que o que funcionou consigo pode não funcionar para a criança.
PREVENÇÃO DE STS: que podem fazer os pais de acolhimento para se protegerem do stress traumático secundário?

Já deu o primeiro passo, procurando aprender o que é o STS e como é causado. O conhecimento dos sintomas ajudá-lo-á a detectar rapidamente se os tem sintomas ou se os observa noutros membros da família.

É importante saber tomar conta de si. Se faz regularmente coisas que o ajudam a viver uma vida equilibrada, está a proteger-se contra o stress traumático secundário. É recomendável criar e pôr em prática um plano que o leve a lembrar-se de que precisa de cuidar de si.

ESTRATÉGIAS PARA COMBATER O TRAUMA SECUNDÁRIO

Compreenda e responda às suas próprias necessidades. Aprenda a reconhecer os sinais de stress do seu corpo.

Estabeleça limites. Não pode ser tudo para todos. Aprenda a dizer “não” a pedidos de tempo ou atenção. É preciso que se reconheça que trabalho de pais que foram traumatizados requer uma mudança de prioridades e relacionamentos.

Crie tempo para descanso e lazer. Pequenas maneiras de cuidar de si podem incluir uma chávena de café pela manhã, um banho de espuma especial, um passeio pelo parque. Concentre-se em maneiras saudáveis ​​de relaxar – aumentar o seu consumo de álcool ou comer doces pode parecer bom no momento, mas levará a um stress maior no futuro.

Mantenha uma visão positiva do mundo. As coisas ruins acontecem, mas há muitas coisas boas no mundo. Lembre-se de que faz parte de algo bom que está a acontecer na vida da criança.

Procure ajuda para os seus próprios sentimentos. Cuidar de si é cuidar da criança. Encontre outras pessoas que o/a ouvirão sem julgamento – um amigo, irmão, psicólogo ou grupo de apoio. (Todas as opções acima, se possível!)

Escolha as suas batalhas. Pergunte-se “isso importa realmente?” Veja o que pode deixar de lado. Perceba que a vida continuará mesmo que não seja perfeito.

Mantenha viva a esperança. Concentre-se nos vislumbres de esperança e de mudança no seu filho e no seu relacionamento com ele.