Proibido para os adultos

 

BATER — GRITAR — SERMÕES LONGOS — AMUAR — ENVERGONHAR

 

Em acolhimento (e não só) sabe-se há muito que estratégias educativas como bater, gritar, etc. até podem funcionar no momento ou a curto prazo, mas não resultam a longo prazo, porque não ensinam a criança a tomar boas decisões e a controlar os seus impulsos (ler cérebro do andar de baixo).

Quando as crianças estão em acolhimento estas estratégias não funcionam a longo prazo por quatro motivos adicionais:

  1. Trazem ao de cima maus-tratos anteriores, fazendo com que a criança associe a família de acolhimento a uma experiência negativa;
  2. Muitas crianças em acolhimento sentem vergonha e acreditam que foram abandonadas ou retiradas aos pais porque fizeram algo errado. Bater ou gritar só acentua a certeza de que a criança é má, de que não merece a família e de que será abandonada de novo;
  3. Dificultam ou atrasam o processo de vinculação por meses ou anos. Por exemplo, imagine que a criança ameaça bater-lhe e que em seguida lhe levanta a mão e a ameaça ou lhe faz o mesmo. Não só isto pode lembrar a criança experiências passadas como torna mais difícil aos cuidadores afirmarem de modo simples e calmo a regra: “Não se bate”;
  4. Não retiram a criança daquilo a que se pode chamar modo triturar. Ou seja, quando a criança está no meio de uma crise, o seu cérebro activou aquilo a que se chama modo de fuga. Neste momento, é difícil, senão mesmo impossível, fazer com que ela oiça o que lhe quer dizer. Ameaças, gritos ou bater acrescentam medos ao medo que a criança já tem e podem funcionar a curto prazo, mas não a longo. Ao mesmo tempo, estudos verificaram que quando se grita ou ameaça bater a criança pára porque dissocia, retirando-se da situação, e não porque está a aprender. Ora o seu objectivo é o de educar a longo prazo.

Está provado que, ao contrário da expressão portuguesa “uma estalada nunca fez mal a ninguém” bater tem consequências no desenvolvimento cognitivo e socio-emocional das crianças. Se não acreditar em nós leia mais aqui.

Ameaças, gritos ou bater acrescentam medos ao medo que a criança já tem e podem funcionar a curto prazo, mas não a longo, pois não a ensinam a regular-se emocionalmente.

OS ADULTOS

Quando os adultos da família de acolhimento começam a impor o modelo educativo que aqui sugerimos percebem geralmente que ele tem resultados. Ainda assim, revertem com alguma frequência para modelos antigos de parentalidade (muitas vezes aqueles que reproduzem o modo como eles próprios foram educados, ou conselhos de amigos e família sobre como educar crianças em acolhimento). Quando revertem para estes modelos tradicionais, é dada aos adultos a oportunidade de perceberem como é difícil reverterem ou alterarem os seus próprios padrões (o que os pode levar a ter alguma empatia pelas mudanças grandes que pedem às suas crianças que sejam capazes de fazer). Ao mesmo tempo, os pais podem perceber que agem assim porque lhes é mais fácil, e não porque resulta melhor. Como Daniel Siegel explica em The Whole Brain, não são só as crianças que recorrem ao cérebro do andar de baixo quando estão cansadas ou com fome.

Uma das maiores dificuldades na parentalidade terapêutica é a capacidade de manter a cabeça fria, de ter paciência e evitar grandes explosões. Também ajuda saber que há sempre um novo dia, em que se pode fazer melhor, e que tal como é importante saber reconhecer quando está a criança cansada, com fome, etc. também os adultos têm de saber fazer a sua auto-análise e perceber quando estão exaustos ou menos pacientes.