CRIANÇA REAL
1. A criança
2. Dificuldades
3. A criança puzzle
4. Consequências do acolhimento
5. Vinculação
6. Negligência
7. Trauma
8. Abuso Sexual
A criança
Uma criança que acabou de ser separada da sua família chega a casa da família de acolhimento com uma sensação de perda, medo e confusão, bem como com um conjunto de comportamentos de sobrevivência. Tudo corre melhor se a família de acolhimento se tiver informado sobre as reacções mais comuns das crianças ou jovens perante o trauma e a negligência, para que estes comportamentos não sejam mal interpretados, considerados patologias graves ou formas de desafio. Ajuda igualmente conhecer o conceito de neuroplasticidade (a capacidade que temos para mudarmos e nos desenvolvermos ao longo da vida), para que a família de acolhimento perceba que, com o acompanhamento certo, as crianças têm uma enorme capacidade de recuperação.
Uma criança que teve cuidadores inconsistentes (ou que viveu numa instituição onde tinha muitos cuidadores) precisou de se adaptar, o que demonstra uma enorme capacidade de resiliência e valentia. Todavia, nem todos os comportamentos que a criança usou para sobreviver serão úteis na sua nova vida em casa, e será preciso tempo, paciência e gentileza até que esta se aperceba de que existem outros modos de lidar com as dificuldades.
A família de acolhimento precisa de conhecer e fazer aquilo a que se chama de parentalidade terapêutica, ou seja, de ter a capacidade de compreender e contextualizar estes comportamentos de sobrevivência, sendo cuidadora e não disciplinadora. A família deve estar consciente de que haverá períodos de regressão e de que a parentalidade corre melhor quando as famílias têm paciência, imaginação e originalidade na resolução de problemas, abandonando os métodos educativos tradicionais.
Tomar conta de crianças que tiveram uma vida complicada não é o mesmo do que tomar conta de crianças que cresceram sem esses desafios, e aprender a conhecer melhor a criança exige tempo e paciência. Criar uma vinculação segura é um processo lento e demorado, tanto da parte dos cuidadores como da criança, devendo estes estar preparados para lidar com as dificuldades e ser capazes de pensar a longo prazo, evitando estratégias inadequadas.