ESCOLA
1. Para os professores
2. Para os pais

Para os professores

 

Aconselhamos os professores a ler a secção sobre trauma, negligência e os seus efeitos, para que possam melhor compreender as características e reacções dos seus alunos. Os professores devem estar conscientes de que aprender não é considerado pelo organismo uma função elementar, pelo que, quando a criança é sujeita a maus-tratos, negligência ou trauma, o seu cérebro desenvolve outras funções, dando menos lugar à aprendizagem. Geralmente, quando a criança regressa a um ambiente securizante e se encontra adaptada, o espaço destinado à aprendizagem volta a desenvolver-se.

 

É importante que os educadores entendam as razões subjacentes a esses comportamentos, em vez de se concentrarem apenas neles.

As emoções e os problemas comuns entre as crianças que foram adoptadas incluem os seguintes:

  • Dificuldade em lidar com questões relacionadas com identidade, pertença ou vinculação;
  • Dificuldade em gerir relacionamentos e papéis complexos e/ou não tradicionais com a sua família de nascimento;
  • Sofrer perda e luto
  • Descobrir como pertencer a uma família de uma cultura ou grupo étnico diferente.

IDEIAS-CHAVE

Os professores devem saber que existe uma diferença entre a idade cronológica da criança e a sua idade emocional e aprender a lidar com ela de forma adequada (saiba mais em Criança Puzzle);

Os professores devem saber que, no primeiro ano de chegada da criança a casa, esta ainda se encontra em modo de sobrevivência, sendo normal que tenha falhas de memória e que se esqueça de coisas que aprendeu;

Isto não significa desistir da criança ou achar que ela não consegue aprender, apenas que uma criança com uma boa auto-estima, que se sente tranquila e segura aprende com maior facilidade;

Os professores devem estar informados sobre dificuldades de integração sensorial e saber que muitas vezes o barulho excessivo, alarmes, etc., criam um profundo desconforto e reacções inesperadas na criança;

Deve saber-se que as mudanças de rotina afectam as crianças, que geralmente têm dificuldades com a transição entre tarefas. A elaboração de um plano do dia e avisar antecipadamente quando existem alterações no plano traz estabilidade à sala de aula;

A estabilidade de pessoas é fundamental na vida das crianças adoptadas, pelo que a escola deve avisar os pais se o professor se vai embora, para que a criança possa ser preparada e não sentir novamente o abandono;

Os trabalhos de casa devem ser feitos na escola e não em casa (quando possível, e aquando da chegada da criança a casa estes devem ser adiados, pois atrasam a criação do vínculo em meses ou anos);

A escola deve procurar, juntamente com os pais, ajudar a criança a desenvolver-se emocional e socialmente, dando primazia ao seu bem-estar e procurando melhorar a sua auto-estima;

A escola deve saber que as crianças adoptadas têm dificuldades ao nível da regulação emocional e deve ajudá-las neste sentido. Aprender a reconhecer, dar nome e saber situar as emoções no corpo ajuda muito as crianças a, lentamente, aprenderem a gerir os seus comportamentos;

Os professores devem saber que as crianças adoptadas são hipersensíveis à crítica;

Não deve ser dito à frente de outros alunos que as crianças têm dificuldades. Muitas vezes estas lidam com problemas de auto-estima, vergonha e sensação de rejeição. O professor deve contribuir para que a criança se sinta valorizada (ajudando-a a reconhecer as suas qualidades) e não o contrário;

Os professores devem saber que as crianças adoptadas têm dificuldade em estabelecer relações de causa-efeito e que é preciso explicar-lhes calmamente que as suas acções têm consequências (se estudar mais, tem melhores notas);

Devem saber que as crianças adoptadas se sentem zangadas e que a sua resposta emocional é muitas vezes excessiva (batendo em si ou noutras crianças, gritando, fazendo birras), mas que estas melhoram com o tempo, firmeza e carinho. Devem usar frases simples como «não se bate» e ajudar a criança a perceber como poderia ter reagido melhor.

Criar uma sala de aula sensível à adopção

 

Pequenas mudanças que os professores podem fazer para garantir que a sala de aula é inclusiva para as famílias formadas por meio da adopção:

 

TAREFAS
  • Seja sensível ao desenvolver tarefas que exigem conhecimento da história do nascimento da criança;
  • As árvores genealógicas podem ser uma actividade difícil e stressante para crianças que não conhecem os detalhes de sua história de nascimento;
  • Os trabalhos de casa que estudam os traços biológicos de uma criança podem ser difíceis se as crianças não conhecerem um ou ambos os pais biológicos;
  • As tarefas que requerem mostrar fotos de bebés podem ser difíceis se a criança não as tiver.
FERIADOS
  • Esteja ciente de que os feriados e dias simbólicos podem ser momentos difíceis para algumas crianças e tente ajustar essas celebrações de forma a incluir todas as crianças;
  • Aniversários, dia da mãe e dia do pai podem gerar uma grande variedade de emoções em crianças que não vivem com os seus pais biológicos;
  • As crianças adoptadas podem comemorar um «dia de adopção» ou «dia de chegar a casa», que é tão importante quanto um aniversário;
  • As celebrações do dia da mãe ou do pai podem ser alteradas para celebrações do dia dos pais.
AULAS
  • Reconheça que, antes de serem adoptadas, algumas crianças podem ter sofrido uma ou mais formas de trauma que exigirão alguma variação no processo de ensino ou outra acomodação nas rotinas da sala de aula.
  • Lembre-se de que castigos que implicam isolamento, como o time out (tempo sozinho) ou separação da criança da sua turma, pode desencadear uma resposta negativa ou inesperada em algumas crianças;
  • Opte pelo time in, em que a criança fica sentada ao pé de si, podendo acalmar-se e pensar;
  • Se uma criança apresentar uma resposta negativa e inesperada, mantenha a calma e ajude a acalmar a criança antes de discutir a disciplina ou as consequências do seu comportamento;
  • Reserve tempo extra para transições entre actividades, que são muitas vezes difíceis para as crianças adoptadas;
  • Faça um calendário do dia que permita à criança seguir a estrutura e organização do que vai acontecer;
  • Informe a criança quando há mudanças na rotina, dado que geralmente estas alterações e tudo o que é inesperado são um problema.

Ao abordar a adopção como sendo positiva e normal, os professores podem ser um apoio e uma defesa na sala de aula para as crianças adoptadas.

COMO PODEM OS EDUCADORES AJUDAR:
  • É importante que os professores compreendam e usem termos apropriados e positivos quando se referem à adopção e aos tópicos com ela relacionados;
  • As oportunidades surgem nas aulas do dia-a-dia quando a adopção pode ser discutida de maneira positiva, reforçando a ideia de que a adopção é apenas outra maneira de formar uma família. A adopção pode ser discutida durante as aulas sobre famílias multiculturais, combinadas ou «diferentes»; durante discussões de genética ou de características herdadas; ou quando em algum livro surge a adopção como parte da história;
  • Discutir a adopção em termos gerais em vez de se referirem situações pessoais. O tópico da adopção pode surgir inesperadamente na sala de aula. Se isso acontecer, o professor não precisa de ter medo de o abordar.
  • Oportunidades educacionais especiais com foco na adopção podem ser desenvolvidas dentro da sala de aula. Um pai adoptivo ou adulto adoptado pode ser convidado para conversar com a turma, ou uma família adoptiva pode ser apresentada;
  • Os professores podem ser uma fonte valiosa de ajuda na sala de aula para uma criança adoptada. Podem surgir ocasiões em que uma criança ouve uma pergunta pessoal sobre adopção com a qual é incapaz de lidar, ou uma criança pode ser provocada relativamente ao seu nascimento ou à sua família adoptiva. Se isso acontecer, os professores são incentivados a intervir e a ajudar a criança como fariam se ouvissem perguntas inadequadas ou provocações sobre questões como raça, cultura ou divórcio.

Veja este vídeo do Instituto Geração Amanhã, a partir do minuto 10:58 para perceber melhor a relação das crianças adoptadas com a escola.

Currículo

 

Existem muitas tarefas escolares que podem ser desafiadoras e até prejudiciais para as crianças adoptadas, como por exemplo quando se focam no passado, em informações pessoais, na genética ou noutros temas que podem definir a criança adoptada e fazer com que ela se sinta diferente dos seus colegas. A lista de tarefas difíceis para as crianças adoptadas está elencada abaixo, juntamente com sugestões para que os educadores ampliem as tarefas para permitir alternativas para que todas as crianças da turma concluam o trabalho. Os professores são incentivados a considerar os objectivos de cada tarefa e a determinar se existem caminhos diferentes que as crianças podem seguir para alcançar esses objectivos.

AUTOBIOGRAFIAS

A autobiografia pode ser difícil e emocionalmente perturbadora para muitas crianças adoptadas, que podem ter vivido acontecimentos desconfortáveis ou traumáticos no seu passado, como terem sido retiradas de casa dos seus pais biológicos. Podem ainda ter sido abusadas ou negligenciadas. Ambas as situações são pessoais e difíceis de partilhar. Além disso, as crianças adoptadas podem não ter informações sobre os seus primeiros anos, ou pode haver lacunas nas informações que têm. Em vez de pedir aos alunos que façam uma autobiografia completa, um professor pode permitir que escolham alguns acontecimentos especiais nas suas vidas actuais, na sua vida no ano anterior ou num período específico de três ou quatro anos à sua escolha. Podem ainda escrever uma biografia de alguém que conhecem ou de uma figura histórica.

ESTUDOS DE GENÉTICA OU RACIAIS

Perguntas, como «De onde vem a cor dos teus olhos?» ou «Com quem mais te pareces na família?» são pessoais e podem ser difíceis ou impossíveis para uma criança adoptada. Pode ser doloroso para a criança admitir que vive numa família onde ninguém mais partilha a sua herança genética ou identidade racial. Em vez de se focarem na sua própria história genética, os alunos podem escolher qualquer grupo biologicamente relacionado – amigos, outros membros da família, vizinhos – e investigar as suas características herdadas.

ESTUDANTE DO DIA OU DA SEMANA

Honrar um aluno por um dia ou por uma semana e destacar informações sobre ele ou sua família ajuda a reforçar a sua auto-estima. No entanto, isto pode ser desconfortável para as crianças adoptadas que podem ter acesso limitado a fotos e informações sobre a sua infância. As crianças adoptadas, quando são mais crescidas, também podem ter lembranças muito dolorosas da sua primeira infância. Seria útil que os professores oferecessem a todos os alunos uma lista de muitas alternativas para que as informações sejam compartilhadas, incluindo mais opções não ameaçadoras, como passatempos, animais de estimação, interesses ou desportos.

HISTÓRIA MÉDICA

É incomum que uma criança adoptada tenha a história médica completa da sua família. As tarefas que revelam a ausência de informações básicas podem ser dolorosas e difíceis para os alunos.

DIA DAS MÃES, DIA DOS PAIS E ANIVERSÁRIOS

Dias ou acontecimentos especiais com foco em mães ou pais geralmente despertam sentimentos sobre os pais biológicos nos filhos/as adoptivos. Os educadores devem estar cientes de que algumas crianças adoptadas ainda podem ter contacto com os pais biológicos e, mesmo que não tenham, podem querer lembrar-se deles ou imaginá-los nessas ocasiões especiais, fazendo-lhes um postal, um presente ou qualquer outra coisa que permita reconhecer a sua importância na vida da criança.

O aniversário da criança é geralmente uma ocasião feliz de comemoração. No entanto, o aniversário de uma criança adoptada desencadeia sentimentos sobre os pais biológicos e perguntas sobre factos específicos, como «A que horas do dia nasci?« ou «Quanto pesava?» ou «Quem estava lá quando eu nasci?»

ADOPTE UM PROJECTO

Frequentemente, as turmas do primeiro ciclo realizam projectos em que «adoptam» algo, como uma baleia, uma floresta ou uma árvore, para ajudar as crianças a aprender a tomar conta do meio ambiente. Tais projectos ensinam a ser responsável, mas também podem causar confusão na mente de crianças pequenas, que são pensadoras concretas. Uma criança pode não entender a diferença entre os termos «adoptar uma criança» e «adopção» em relação ao apoio a um animal ou a um objecto inanimado. Como os projectos geralmente envolvem a captação de recursos, as crianças podem concluir que tudo o que se precisa de fazer para adoptar é pagar algum dinheiro. E como os projectos de adopção de uma árvore ou animal precisam de ser renovados a cada ano, a criança pode perguntar-se se os seus pais têm de pagar mais dinheiro para renovar a adopção. Se tais projectos forem realizados, será útil escolher outras palavras, como «apoio» ou «ajuda», em vez de «adoptar».

FICHAS DE APOIO (DISPONÍVEIS EM PORTUGUÊS EM BREVE)

What Teachers Should Know About Adoption, Quality Improvement Center for Adoption & Guardianship Support and Preservation.

Safe and Sound: Responding to the Experiences of Children Adopted or in Foster Care,
A Guide for Early Education and Child Care Providers, American Academy of Pediatrics.

SAFE AND SOUND: Responding to the Experiences of Children Adopted or in Foster Care
A Guide for Teachers, Counselors, and Other Professionals Working with School-Age Children and Youth, American Academy of Pediatrics.

Adoption Basics for Educators, How Adoption Impacts Children & How Educators Can Help, Iowa Foster & Adoptive Parents Association.

Children of Trauma: What Educators Need to Know, Adoption Advocate, National Council for Adoption.

Adopción y escuela. Guía para educadores y familias. BIBLIOTECA ONLINE SOBRE TEMAS DE ADOPCIÓN.

Creating Trauma-Informed Classrooms, Adoption Advocate No. 75.

Helping Traumatized Children Learn, Trauma and Learning Policy Initiative (TLPI) – A collaboration of Massachusetts Advocates for Children and Harvard Law School.

Sobre o medo e origem de certos comportamentos (e como desarmá-los) leia Karen Purvis, «Disarming the Fear Response with Felt Safety», The Connected Child.

PARA VER

TBRI in Schools, The Karen Purvis Institute for Child Development.