Retrocessos

 

Não é só com as crianças adoptadas que há retrocessos no crescimento, isto é, fases em que a criança se parece ter esquecido de coisas que tinha aprendido, como a jantar usando o garfo e a faca ou a não fazer xixi nas calças. Como Brazelton afirma, perante cada salto de desenvolvimento (a que o autor chama de touchpoints) surgem desafios exigentes e stressantes para a criança, que a podem levar a recuar para depois ser capaz de avançar com maior segurança. Como o autor afirma, em Touchpoints – Three to Six: Your Child’s Bahavioural and Emotional Development: «A capacidade de a criança recuar para poder reunir a energia necessária para dar um passo exigente sempre me impressionou pela sua eficácia».

Nas crianças adoptadas, estes retrocessos surgem por vezes no início da adaptação da vida em casa e devem ser considerados um bom sinal, pois muitas vezes a criança procura repetir com os pais adoptivos experiências que não teve anteriormente ou que teve mas que precisa de retomar para que o processo de vinculação tenha lugar.

Assim, não estranhe se a criança deixar de saber jantar sozinha quando chega a casa ou se pedir ajuda para se vestir (no caso de crianças mais velhas). Ajude a criança no que puder e verá que esta não é mais do que uma fase importante para o seu crescimento em família.

Ao longo da vida da criança em casa, outros retrocessos podem surgir de forma inesperada e parecer surpreendentes. Quando o seu filho/a já não fazia birras ou não tinha pesadelos e de repente surge um dia difícil, os pais não conseguem perceber o que levou a tal coisa. Em geral, se conversar com a criança (e dependendo da idade desta), é natural que os pais cheguem à conclusão de que algo a perturbou, seja na escola ou em casa.

Sublinharemos muitas vezes o lema «estabilidade de rotinas, de sítios e de pessoas». Não será surpreendente perceber que, ao mudar o seu filho/a de escola, quando a professora de ballet engravida, ou numa mudança de casa, o seu filho/a regresse a padrões de comportamento antigos. As crianças adoptadas precisam de estabilidade, pelo que deve procurar evitar mudanças repentinas ou bruscas, sabendo que, na vida, nem tudo se pode controlar.

Quando há retrocessos, procure regressar aos métodos que usou nos primeiros meses de adopção, e dos quais até talvez já se tenha esquecido. Reforce as horas de brincadeira, faça comida que a conforte (e seja doce, mas firme, ao lidar com comportamentos desafiantes). Aceite que esta é uma fase, não seja fatalista e saiba que muito provavelmente a criança dará um novo salto de crescimento quando toda esta turbulência passar.