Para os professores

 

Aconselhamos os professores a ler a secção sobre trauma, negligência e os seus efeitos, para que possam melhor compreender as características e reacções dos seus alunos. Os professores devem estar conscientes de que aprender não é considerado pelo organismo uma função elementar, pelo que, quando a criança é sujeita a maus-tratos, negligência ou trauma, o seu cérebro desenvolve outras funções, dando menos lugar à aprendizagem. Geralmente, quando a criança regressa a um ambiente securizante e se encontra adaptada, o espaço destinado à aprendizagem volta a desenvolver-se.

 

É importante que os educadores entendam as razões subjacentes a esses comportamentos, em vez de se concentrarem apenas neles.

As emoções e os problemas comuns entre as crianças em acolhimento incluem os seguintes:

  • Dificuldade em lidar com questões relacionadas com identidade, pertença ou vinculação;
  • Dificuldade em gerir relacionamentos e papéis complexos e/ou não tradicionais com a sua família de nascimento;
  • Sofrer perda e luto;
  • Descobrir como pertencer a uma família de uma cultura ou grupo étnico diferente.
IDEIAS-CHAVE

Os professores devem saber que existe uma diferença entre a idade cronológica da criança e a sua idade emocional e aprender a lidar com ela de forma adequada (saiba mais em Criança Puzzle);

Os professores devem saber que, no primeiro ano de chegada da criança a casa, esta ainda se encontra em modo de sobrevivência, sendo normal que tenha falhas de memória e que se esqueça de coisas que aprendeu;

Isto não significa desistir da criança ou achar que ela não consegue aprender, apenas que uma criança com uma boa auto-estima, que se sente tranquila e segura aprende com maior facilidade;

Os professores devem estar informados sobre dificuldades de integração sensorial e saber que muitas vezes o barulho excessivo, alarmes, etc., criam um profundo desconforto e reacções inesperadas na criança;

Deve saber-se que as mudanças de rotina afectam as crianças, que geralmente têm dificuldades com a transição entre tarefas. A elaboração de um plano do dia e avisar antecipadamente quando existem alterações no plano traz estabilidade à sala de aula;

A estabilidade de pessoas é fundamental na vida das crianças em acolhimento, pelo que a escola deve avisar os acolhedores se o professor se vai embora, para que a criança possa ser preparada e não sentir novamente o abandono;

Os trabalhos de casa devem ser feitos na escola e não em casa (quando possível, e aquando da chegada da criança a casa estes devem ser adiados, pois atrasam a criação do vínculo em meses ou anos);

A escola deve procurar, juntamente com os acolhedores, ajudar a criança a desenvolver-se emocional e socialmente, dando primazia ao seu bem-estar e procurando melhorar a sua auto-estima;

A escola deve saber que as crianças em acolhimento têm dificuldades ao nível da regulação emocional e deve ajudá-las neste sentido. Aprender a reconhecer, dar nome e saber situar as emoções no corpo ajuda muito as crianças a, lentamente, aprenderem a gerir os seus comportamentos;

Os professores devem saber que as crianças em acolhimento são hipersensíveis à crítica;

Não deve ser dito à frente de outros alunos que as crianças têm dificuldades. Muitas vezes estas lidam com problemas de auto-estima, vergonha e sensação de rejeição. O professor deve contribuir para que a criança se sinta valorizada (ajudando-a a reconhecer as suas qualidades) e não o contrário;

Os professores devem saber que as crianças em acolhimento têm dificuldade em estabelecer relações de causa-efeito e que é preciso explicar-lhes calmamente que as suas acções têm consequências (se estudar mais, tem melhores notas);

Devem saber que as crianças em acolhimento se sentem zangadas e que a sua resposta emocional é muitas vezes excessiva (batendo em si ou noutras crianças, gritando, fazendo birras), mas que estas melhoram com o tempo, firmeza e carinho. Devem usar frases simples como «não se bate» e ajudar a criança a perceber como poderia ter reagido melhor.

Criar uma sala de aula sensível

 

Pequenas mudanças que os professores podem fazer para garantir que a sala de aula é inclusiva para as famílias de acolhimento:

TAREFAS
  • Seja sensível ao desenvolver tarefas que exigem conhecimento da história do nascimento da criança;
  • As árvores genealógicas podem ser uma actividade difícil e stressante para crianças que não conhecem os detalhes de sua história de nascimento;
  • Os trabalhos de casa que estudam os traços biológicos de uma criança podem ser difíceis se as crianças não conhecerem um ou ambos os pais biológicos;
  • As tarefas que requerem mostrar fotos de bebés podem ser difíceis se a criança não as tiver.
FERIADOS
  • Esteja ciente de que os feriados e dias simbólicos podem ser momentos difíceis para algumas crianças e tente ajustar essas celebrações de forma a incluir todas as crianças;
  • Aniversários, dia da mãe e dia do pai podem gerar uma grande variedade de emoções em crianças que não vivem com os seus pais biológicos;
  • As celebrações do dia da mãe ou do pai podem ser alteradas para celebrações do dia dos pais ou da família.
AULAS
  • Reconheça que, antes de serem acolhidas, algumas crianças podem ter sofrido uma ou mais formas de trauma que exigirão alguma variação no processo de ensino ou outra acomodação nas rotinas da sala de aula.
  • Lembre-se de que castigos que implicam isolamento, como o time out (tempo sozinho) ou separação da criança da sua turma, pode desencadear uma resposta negativa ou inesperada em algumas crianças;
  • Opte pelo time in, em que a criança fica sentada ao pé de si, podendo acalmar-se e pensar;
  • Se uma criança apresentar uma resposta negativa e inesperada, mantenha a calma e ajude a acalmar a criança antes de discutir a disciplina ou as consequências do seu comportamento;
  • Reserve tempo extra para transições entre actividades, que são muitas vezes difíceis para as crianças em acolhimento;
  • Faça um calendário do dia que permita à criança seguir a estrutura e organização do que vai acontecer;
  • Informe a criança quando há mudanças na rotina, dado que geralmente estas alterações e tudo o que é inesperado são um problema.

Ao abordar o acolhimento como sendo positivo e normal, os professores podem ser um apoio e uma defesa na sala de aula para as crianças.

  • É importante que os professores compreendam e usem termos apropriados e positivos quando se referem ao acolhimento e aos tópicos com ele relacionados;
  • Os professores podem ser uma fonte valiosa de ajuda na sala de aula para uma criança que está em acolhimento. Podem surgir ocasiões em que uma criança ouve uma pergunta pessoal sobre acolhimento com a qual é incapaz de lidar, ou uma criança pode ser provocada relativamente ao seu nascimento ou à sua família. Se isso acontecer, os professores são incentivados a intervir e a ajudar a criança como fariam se ouvissem perguntas inadequadas ou provocações sobre questões como raça, cultura ou divórcio;
  • Discutir o acolhimento em termos gerais em vez de se referirem situações pessoais. O tópico pode surgir inesperadamente na sala de aula. Se isso acontecer, o professor não precisa de ter medo de o abordar;
  • Oportunidades educacionais especiais com foco no acolhimento podem ser desenvolvidas dentro da sala de aula. Um acolhedor ou adulto que viveu em acolhimento pode ser convidado para conversar com a turma, ou uma família de acolhimento pode ser apresentada.