Que gostaria de ter sabido?

 

Muitas famílias de acolhimento dizem que há coisas que gostariam de ter sabido antes de a criança chegar, para a protegerem e ajudarem melhor. Aqui vos deixamos uma lista, baseada em muitas outras que consultámos (espreitar o fim desta página).

 

SALVAGUARDAR A HISTÓRIA DA CRIANÇA

Uma das primeiras perguntas que a família de acolhimento ouve por parte das pessoas que conhece aquando da chegada da criança diz respeito à sua história familiar e aos motivos pelos quais foi retirada aos pais biológicos. A família deve ter alguma firmeza a lidar com estas perguntas e explicar que a história da criança é sua, e privada, pelo que não a devem partilhar. Isto não significa que não tenham confiança nos seus familiares ou amigos. No dia em que a criança desejar conhecer a sua história não é bom que as pessoas à sua volta saibam mais do que ela ou que a criança venha a saber o que lhe aconteceu por fontes indirectas. Os cuidadores devem lembrar-se de que a criança terá de aprender a lidar com o seu passado mais tarde e devem procurar protegê-la e salvaguardá-la.

Neste sentido, e apesar de vivermos num mundo onde os limites entre o público e o privado nem sempre se distinguem bem, é útil a família de acolhimento não partilhar fotografias das crianças nas redes sociais. Protejam-nas o melhor possível.

DETECTIVES E UM DIÁRIO

A família de acolhimento terá, nas primeiras semanas ou meses, de fazer o papel de detective da criança, de modo a conseguir perceber quais as motivações para os seus comportamentos. Deverá aprender a distinguir birras de comportamentos desafiantes, questões sensoriais que podem estar a afectar a criança (ler mais), chamadas de atenção e emoções como a tristeza e a angústia. No início, estes comportamentos podem parecer todos iguais, pelo que ajuda se a família os for anotando num pequeno diário para conseguir lentamente começar a diferenciá-los.

Este diário também é importante para uns meses mais tarde. Quando os cuidadores se sentirem por vezes exasperados com aquilo que parece ser a falta de progressos por parte da criança, podem sempre voltar atrás e lembrar-se do imenso caminho que já percorreram juntos. Nesse momento, vão perceber que muitos dos comportamentos mais desafiantes são menos frequentes, que a criança come ou dorme melhor, etc. Este diário também poderá ser útil para os momentos em que parecem existir algumas regressões no comportamento, podendo os pais voltar atrás, recuperando modos de lidar com a criança que resultaram na altura, de modo a ajudar a criança.

Lembrem-se de que aprender a conhecer a criança leva tempo, o mesmo que esta levará a conhecer-vos, por isso não vale a pena ficarem exasperados quando não compreendem as motivações por detrás de certos comportamentos. Com o tempo aprenderão lentamente a reconhecer padrões por detrás de certas atitudes e tornar-se-ão melhores a preveni-las ou a lidar com elas.

Aprendam a distinguir as dificuldades normais de uma criança e as que são específicas a uma criança em acolhimento. Procurem protegê-lo, sobretudo nos primeiros meses. Se sabem que a criança fica demasiado excitada ou birrenta em sítios com muita gente, evite levá-la. Lembrem-se de que é importante criarem boas memórias e aproveitar bem os momentos em que estão juntos. Haverá muito tempo para lidar com as dificuldades do dia a dia.

NÃO LEVAR A PEITO

No acolhimento, é essencial não levar as coisas a peito. Os comportamentos da criança, mesmo quando desafiam ou confrontam a família, não têm a ver com ela. Imaginem-se numa nova casa, com cuidadores que até há pouco eram estranhos, com cheiros desconhecidos, rotinas novas. Por causa da sua história, a criança desafiará ou confrontará qualquer família onde esteja, de forma a assegurar-se de que estes estão à altura, de que não a abandonarão e de que pode confiar neles. Assim, os momentos de confronto, de choro ou apatia devem ser considerados oportunidades para provar à criança que pode encontrar nesta nova casa as figuras calmas e tranquilas de que precisa.

 

SABER COMPREENDER

É importante perceber que comportamentos de sobrevivência, como a mentira ou a manipulação devem ser contextualizados, e não considerados patologias graves ou comportamentos desviantes. As crianças desenvolveram-nos porque foram necessários a certa altura, e podem ter-lhes salvo a vida.