CHEGADA DA CRIANÇA
1. Lista de perguntas

2. Conhecer a criança
3. Que gostaria de ter sabido?
4. Tribunal

Que gostaria de ter sabido?

 

A maioria dos pais adoptivos diz que há coisas que gostaria de ter sabido antes da adopção, para protegerem e ajudarem melhor os seus filhos/as aquando da sua chegada.

SALVAGUARDAR A HISTÓRIA DA CRIANÇA

Uma das primeiras perguntas que os pais adoptivos ouvem aquando da chegada da criança diz respeito à sua história familiar e aos motivos pelos quais foi retirada aos pais biológicos. Os pais devem ter alguma firmeza a lidar com estas perguntas e explicar que a história da criança é sua, e privada, pelo que não a devem partilhar. Isto não significa que não têm confiança nos seus familiares ou amigos. Chegará um dia em que a criança desejará conhecer a sua história, e não é bom que as pessoas à sua volta saibam mais do que ela ou que a criança venha a saber o que lhe aconteceu por fontes indirectas. Os pais devem lembrar-se de que a criança terá de aprender a lidar com o seu passado mais tarde e devem procurar protegê-la e salvaguardá-la.

Neste sentido, e apesar de vivermos num mundo onde os limites entre o público e o privado nem sempre se distinguem bem, é útil os pais pensarem duas vezes antes de partilharem fotografias das crianças nas redes sociais ou fazerem um grande alarido em ocasiões como o dia da sentença de tribunal. Lembrem-se de que existem momentos que são vividos de forma positiva pelos pais, mas em relação aos quais as crianças (ou naquele momento ou mais tarde) podem ter sentimentos ambíguos. Protejam-nas o melhor possível.

DETECTIVES E UM DIÁRIO

Os pais terão, nas primeiras semanas ou meses, de fazer o papel de detectives da criança, de modo a conseguirem perceber quais as motivações para os seus comportamentos. Deverão saber distinguir birras, de comportamentos desafiantes, compreender que podem existir dificuldades de integração sensorial que afectam a criança e que são diferentes de chamadas de atenção ou de emoções como a tristeza e a angústia. No início, estes comportamentos podem parecer todos iguais, pelo que ajuda se os pais os forem anotando num pequeno diário para conseguirem lentamente começar a diferenciá-los.

Este diário também é importante no futuro. Quando os pais se sentirem por vezes exasperados com aquilo que parece ser a falta de progressos por parte da criança, podem sempre voltar atrás e lembrar-se do imenso caminho que já percorreram juntos. Nesse momento, vão perceber que muitos dos comportamentos mais desafiantes são menos frequentes, que a criança come ou dorme melhor, etc. Este diário também poderá ser útil para os momentos em que parecem existir retrocessos no comportamento, podendo os pais voltar atrás e recuperar modos de lidar com a criança que resultaram na altura, de modo a ajudá-la.

Lembrem-se de que aprender a conhecer a criança leva tempo, o mesmo que esta levará a conhecer-vos, por isso não vale a pena ficarem exasperados quando não compreendem as motivações por detrás de certos comportamentos. Com o tempo aprenderão lentamente a reconhecer padrões por detrás de certas atitudes e tornar-se-ão melhores a preveni-las ou a lidar com elas.

Aprendam a distinguir as dificuldades normais de uma criança e as que são específicas do seu filho/a adoptado. Procurem protegê-lo, sobretudo nos primeiros meses. Se sabem que a criança fica demasiado excitada ou birrenta em sítios com muita gente, evite levá-la. Lembrem-se de que é importante criarem boas memórias e aproveitar bem os momentos em que estão juntos. Haverá muito tempo para lidar com as dificuldades do dia a dia.

NÃO LEVAR A PEITO

Na adopção, é essencial não levar as coisas a peito. Os comportamentos da criança, mesmo quando desafiam ou confrontam os pais, não têm a ver com eles. Imaginem-se numa nova casa, com pais que até há pouco eram estranhos, com cheiros desconhecidos, rotinas novas. Por causa da sua história, a criança desafiará ou confrontará quaisquer pais que tenha, de forma a assegurar-se de que estes estão à altura, de que não a abandonarão e de que pode confiar neles. Assim, os momentos de confronto, de choro ou apatia devem ser considerados oportunidades para provar à criança que pode encontrar nos seus pais as figuras calmas e tranquilas de que precisam. Procure pensar que a criança testaria quaisquer pais e que, dada a sua história de vida, é natural que o faça.

NÃO MENOSPREZAR A NORMALIDADE ADOPTIVA

Nos livros sobre adopção fala-se muitas vezes de pais exasperados quando, ao final de alguns anos de vida familiar com a criança, se apercebem de que esta continua a reagir mal a mudanças de rotina ou de vida, que levam o seu comportamento a regredir. No primeiro ano de adopção, muitos pais enchem-se de tempo e paciência para enfrentar os desafios que vão surgindo, mas, à medida que as crianças crescem, esperam que estas se vão tornando cada vez mais autónomas e estranham quando, se por algum motivo têm de trabalhar mais horas durante dois meses seguidos, o comportamento do seu filho/a parece regredir. Johanne Lemieux explica como uma criança adoptada que está dentro da normalidade adoptiva (ou seja, que não tem dificuldades de saúde ou de desenvolvimento acrescidas) pode ter em média dois anos de atraso ao nível do desenvolvimento emocional. É por este motivo que o seu filho/a de 6 anos ainda parece fazer as birras dos quatro, que o seu filho/a de 12 anos parece por vezes agir como se tivesse 10, e assim sucessivamente.

Quando percebe que os seus filhos/as reagem mal perante uma mudança, experimente reforçar o tempo que passa com eles, dedique-lhes mais tempo de brincadeira ou faça uma saída especial com o seu filho/a adolescente. Esta atenção extra poderá ajudar as suas crianças a lidar melhor com as dificuldades que vão surgindo, sabendo os pais que, apesar de no primeiro ano a maioria das crianças conseguir ultrapassar muitas das suas dificuldades, algumas delas permanecerão ou que os pais assistirão a retrocessos em alturas difíceis (ou de transição).