Ética e adopção

 

Em anos recentes, adultos que foram adoptados em criança constituíram-se enquanto movimento, na esperança de lutarem pela ética da adopção, ou seja, pela criação de famílias felizes e bem integradas, que respeitam a tríade da adopção (criança, pais biológicos e pais adoptivos).

As preocupações dos adultos adoptados não são estanques, e aquilo que se considera a ética da adopção tem vindo a mudar, mas, de momento, são estes são os temas mais importantes.

DIREITO A SER AMADO

Todas as crianças têm direito a uma família que goste profundamente delas e que as aceite como são. Este é um dos aspectos mais bonitos da adopção: a capacidade de aprendermos a gostar imensamente de alguém diferente de nós, em vez de o/a tentarmos moldar à nossa imagem.

TRÍADE

Esta é composta pela criança, pelos seus pais biológicos e pelos seus pais adoptivos e todos têm direito a serem tratados com respeito.

ADOPÇÕES NÃO AUTORIZADAS E RAPTO

Pense, antes de considerar tal hipótese, no dia em que terá de explicar ao seu filho/a que não tem os seus dados médicos, que não conhece a sua história de vida, que foi roubada/o, que pagou uma quantia pela adopção, entre outros temas graves. E antecipe o modo como a conversa vai correr. Não há nada que justifique uma adopção não autorizada, pois nestas nunca poderá saber com segurança o que aconteceu aos pais biológicos e se estes concordaram com a adopção.

ADOPÇÃO ABERTA

Em países como o Canadá, França, EUA, Austrália, entre muitos outros, só em casos muito raros é que permanece o conceito de adopção fechada, que é o único existente por lei em Portugal. Considera-se que é do interesse da criança que esta conheça os pais biológicos e vá contactando com eles ao longo da sua vida, de forma a diminuir a sua sensação de responsabilidade e de vergonha pelo abandono.

Ler mais: Helping Your Adopted Children Maintain Important Relationships With Family, Child Welfare Information Gateway.

CONFIDENCIALIDADE

Muitas vezes, os pais adoptivos não se lembram de que a história dos seus filhos/as é confidencial. A história privada de cada criança é sua e de mais ninguém, e não cabe aos pais adoptivos divulgá-la, nem à família próxima, nem a amigos chegados. Quando a criança tiver idade, se assim o desejar, poderá contar o que quiser. O direito à privacidade tem sido uma das maiores lutas dos adultos adoptados.

SEGREDOS E MENTIRAS

O segredo à volta da adopção, tão comum há umas décadas, praticamente não tem lugar hoje em dia. Sabe-se que um adulto adoptado a quem ninguém tenha contado a sua história tem a sensação de que existe algo em falta na sua vida, e a descoberta tardia da adopção é vivida de uma forma negativa e intensa. Uma criança adoptada tem o direito de saber que o foi e a conhecer a sua história, por mais difícil que esta seja.

ACESSO À INFORMAÇÃO

Os adultos que foram adoptados em criança ou que viveram em instituições de acolhimento têm lutado pelo acesso à informação sobre o seu passado e aos processos redigidos pelas equipas de adopção. Esta informação é útil por motivos médicos, mas não só; compreender e conhecer as suas raízes é da maior importância para alguém que foi adoptado.

COMUNIDADE LGBTQ

Apesar de serem inúmeros os estudos que demonstram que não existem, para a criança, quaisquer diferenças entre ser educada por pais da comunidade LGBTQ ou por casais heterossexuais, existem ainda muitas vezes preconceitos por parte das equipas que acompanham os processos neste sentido. Seria importante manter o princípio legal da não discriminação e pensar no interesse da criança. Ler mais

Por sua vez, sabe-se que os adolescentes LGBTQ correm mais risco de serem rejeitados pelas suas famílias adoptivas, acabando por vezes a viver na rua ao verem a sua identidade sexual rejeitada. Estes precisam de famílias que os apoiem, os defendam e lhes ofereçam um lar permanente. Veja aqui o vídeo da Fundação Spaulding sobre este tema. Ler mais.

COMPETÊNCIA RACIAL E CULTURAL

A família adoptiva tem a obrigação, no caso das adopções transraciais ou transculturais, de ajudar a criança a compreender melhor o que é a identidade racial e o racismo. Cabe à família adoptiva perceber que é no melhor interesse da criança (e que esta tem o direito de) frequentar uma escola onde existem outras crianças que partilham a sua identidade racial ou cultural, ter mentores da mesma raça, etc. Os adultos adoptados rejeitam o antigo princípio de color blindness (o de que todas as raças são iguais e de que a cor não é importante) e preferem antes pensar e ensinar a ideia de não discriminação, sublinhando a necessidade de ensinar a criança a lidar com o racismo.