Falar sobre adopção (por idades)

 

«A Compreensão que as Crianças têm da Adopção», traduzido com autorização de Adoption Basics for Educators.

 

PRÉ-ESCOLAR
As crianças em idade pré-escolar ainda não compreendem completamente a ideia de reprodução e o conceito de «nascer». Embora provavelmente tenham conversado sobre adopção com os seus pais e possam ter sido informadas de que foram adoptadas, geralmente não conseguem perceber a diferença entre terem sido adoptadas e nascerem numa família. Devido a esta falta de compreensão, as crianças adoptadas mais pequenas raramente apresentam problemas de integração relacionados com a adopção em idade pré-escolar. As crianças que eram um pouco mais velhas quando deixaram a sua primeira casa podem lembrar-se dos seus pais biológicos e, dependendo das circunstâncias que envolvem a sua mudança da casa destes para a casa dos pais adoptivos, podem apresentar problemas de integração relacionados com esta mudança.

 

PRIMEIRO CICLO
Geralmente, aos seis ou sete anos de idade as crianças começam a ter alguma compreensão sobre o que é a reprodução e podem compreender que cresceram dentro da mãe que deu à luz e que agora moram com outros pais. Nessa idade, e ao longo dos primeiros anos do ensino básico, as crianças adoptadas começam a ter um entendimento mais amplo da adopção e das questões de perda e abandono que a acompanham. Podem começar a pensar e a fantasiar sobre os seus pais biológicos. Perguntam porque foram dadas para adopção. Estes pensamentos e dúvidas requerem energia mental, podem dificultar a concentração de algumas crianças na escola e podem levar a mudanças de comportamento. Embora cada criança adoptada reaja de maneira diferente, não é incomum que ela passe por um processo de luto, que pode incluir estágios de negação, raiva e tristeza. Esse processo de luto pode repetir-se nos vários estágios de desenvolvimento da criança.

 

SEGUNDO CICLO
As crianças nos anos mais avançados do ensino básico podem pensar ainda mais sobre o que significa ser adoptado. A auto-estima é importante nessa idade, e as crianças adoptadas devem incorporar a ideia de que foram adoptadas na sua auto-imagem. Qualquer problema, incluindo a adopção, que as torne «diferentes» dos seus pares pode ser uma fonte de ansiedade. Podem ter medo de que os seus pares pensem pior delas porque são adoptadas. Continuam a perguntar-se sobre os motivos pelos quais os pais biológicos as deram para adopção e se os pais adoptivos as amam ou não como se fossem um filho/a biológico.

 

ADOLESCÊNCIA
No momento em que a maioria das crianças entra na adolescência, têm a capacidade de pensar de forma abstracta, o que lhes permite compreender problemas legais e os motivos pelos quais os pais biológicos colocam ou foram compelidos a dar os filhos/as para adopção. À medida que os adolescentes fazem a transição da infância para a vida adulta, começam a procurar a sua própria identidade e a iniciar o processo de separação dos seus pais. Para as crianças adoptadas, encontrar a sua própria identidade pode ser mais difícil por causa da sua história, dado que já foram separadas das famílias de nascimento e vivem com outras pessoas. O adolescente pode reflectir sobre o que a sua vida poderia ter sido. Alguns adolescentes acham que a adopção é a causa de todos os seus problemas. Para outros, a adopção pode não ser uma questão importante.

Qualquer que seja a idade da criança, os educadores precisam de ser sensíveis ao facto de que a adopção pode suscitar pensamentos, preocupações e perguntas na mente de uma criança, que podem afectar o seu comportamento e desempenho académico.

AJUDE O SEU FILHO/A A LIDAR COM A DOR E A PERDA

Traduzido com autorização de Parenting your Adopted School-Age Child

«Todas as adopções envolvem perda. Pode ser necessário ajudar o seu filho/a a lidar com o sofrimento relacionado com a adopção. Aqui estão algumas maneiras de promover a comunicação sobre perda com o seu filho/a e a reconhecer os seus sentimentos:

  • Resolva o problema com antecedência. Não espere que o seu filho/a fale sobre o assunto da adopção, comece a sentir falta de parentes ou exprima tristeza pela sua história familiar. Mesmo que o seu filho/a nunca mencione os seus pais biológicos, a maioria das crianças adoptadas dos 6 aos 12 anos de idade tem pensamentos frequentes sobre eles. Se for aberto e prático ao falar sobre o assunto, ajudará o seu filho/a a sentir-se mais confortável.
  • Pode ajudar o seu filho/a sendo solidário («Pareces triste. Gostaria de saber se estás a pensar no teu nascimento (ou na outra) família.») Os esforços para diminuir a dor, por outro lado, podem fazer as crianças questionarem o valor dos seus sentimentos e reduzir a confiança nas suas capacidades de lidar com estes temas.
  • Aborde medos e fantasias relacionados com a adopção. As crianças que sofreram a perda de pelo menos uma família ou casa podem ter medo de perder outra. O medo pode assumir a forma de dificuldades para dormir ou comer, pesadelos, dificuldades de separação, nervosismo e até alergias e doenças aumentadas. Para diminuir os medos:

– Assegure o seu filho/a de que pretende ser a mãe/o pai dele para sempre. Demonstre isso por meio de palavras e acções. Algumas crianças podem testar os seus pais adoptivos com mau comportamento.

– Envolva a criança no planeamento de futuros acontecimentos familiares (por exemplo, «No próximo Natal, gostarias de …?»).

  • Reconheça os sentimentos do seu filho/a. Diga ao seu filho/a que é natural que os filhos/as adoptivos pensem nas suas famílias de origem e sintam tristeza pela perda de familiares ou histórias familiares desconhecidas.
  • Resista à vontade de animar uma criança em luto. Não pode remover a perda da adopção. Assim como as crianças precisam da hipótese de aprender e desenvolver-se à sua maneira, também precisam de lidar com o sofrimento e a sensação de perda.
  • Ajude o seu filho/a a expressar tristeza da maneira que melhor se encaixa no seu estágio de desenvolvimento emocional. Uma criança em idade escolar pode precisar tanto de chorar e de ser confortada como uma criança mais pequena.
  • Esteja preparado para o sofrimento disfarçado de raiva. Embora seja difícil para os pais, a raiva é uma maneira de os filhos/as desabafarem a perda e a tristeza. Com o tempo, a criança é capaz de deixar ir essas emoções perturbadoras.
  • Compre um álbum de fotos com espaços designados para fotos e recordações da escola, até ao ensino secundário.
  • Vá-se embora e volte. Embora seja extremamente difícil sair quando uma criança tem ansiedade de separação, é somente através da prática que ela aprende que regressará.

Todas as crianças fantasiam sobre uma vida familiar alternativa – uma mãe «real» que nunca repreende, um pai que é uma pessoa famosa. Às vezes, as crianças adoptadas em idade escolar recorrem à fantasia para tentar desfazer as suas perdas. Podem imaginar o pai biológico a regressar para si ou a agência de adopção a telefonar para relatar que colocaram o filho/a errado por engano. Para abordar estas fantasias:

→ Incentive o seu filho/a a falar sobre fantasias e a expressar os seus sentimentos sobre a adopção.

→ Assegure o seu filho/a de que é normal que os filhos/as adoptivos imaginem o que suas vidas podiam ter sido se não tivessem sido adoptados. Saliente que todos, adoptados ou não, fazem isso ocasionalmente. («Gostaria de saber o que teria acontecido se eu tivesse … [estudado numa faculdade diferente, aceitado outro emprego, nascido noutra família].»)

FALAR SOBRE A ADOPÇÃO

Os pais que se sentem bem com a adopção sentem-se à vontade para falar sobre isso e podem reconhecer abertamente os sentimentos dos seus filhos/as, sendo mais capazes de os ajudar a fazer o mesmo. Os pais que ficam tensos quando o assunto é abordado ou que o mantêm em segredo podem enviar a mensagem de que algo está errado com a adopção. Esta secção apresenta dicas para comunicar sobre a adopção e para reconhecer a história do seu filho/a de maneira positiva.

ESCOLHA AS SUAS PALAVRAS COM CUIDADO:

Converse aberta e honestamente com o seu filho/a em idade escolar sobre a adopção. No entanto, esteja ciente das palavras que usar.

Considere as seguintes opções de palavras:

– «Tens muita sorte em ser adoptado.» Não se deve esperar que as crianças adoptadas sejam gratas por terem uma família ou por tomarem conta delas. Isso pode levar a um problema de auto-estima (ou seja, porque merecem famílias as outras crianças, mas eu tenho que ser grato por ter uma?)

– «Optamos por adoptá-lo – tu és especial.» Mais tarde, os adoptados podem perceber a perda implícita por serem «escolhidos» (eles primeiro tiveram que ser «não escolhidos»).

Não adultere a experiência de adopção. Fazer isso nega às crianças o apoio de que precisam, pois terão de sofrer as suas perdas. Por exemplo, falar apenas sobre o quão maravilhoso foi para o seu filho/a ser adoptado ignora o facto de que ganhar a sua família também significa perder a experiência de ser criado com a família biológica. Para curar, é necessário que a criança sofra primeiro e fique com raiva.

Treine falar sobre adopção num grupo de apoio aos pais adoptivos ou com outras pessoas na sua rede de apoio e deixe que eles lhe dêem feedback. Ao comunicar com o seu filho/a:

Pense em como as suas palavras podem ser compreendidas pelo seu filho/a. Muitos pais adoptivos tentam desenvolver a auto-estima dos seus filhos/as dizendo coisas que podem parecer positivas, mas que podem ser mal interpretadas.

FICHA DE APOIO 

O Impacto da Adopção, Child Welfare Information Gateway.

FICHAS DE APOIO (DISPONÍVEIS EM PORTUGUÊS EM BREVE)

Talking to Adopted Children About Birth Parents and Families of Origin: How to Answer the “Hard Questions”, Adoption Advocate, National Council for Adoption.

Positive Adoption Language, Adoptive Families.

What does your child call her birth mother?, Site Creating a Family.

How to tell your child they are adopted, Family Lives.

Supporting your LGBTQ youth: A guide for foster parents. Child Welfare Information Gateway.

Talking with Older Youth about Adoption. Child Welfare Information Gateway.

Belonging Matters—Helping Youth Explore Permanency. Child Welfare Information Gateway.