Disrupções ou interrupções

 

A palavra «disrupção» descreve o modo como algumas famílias, durante o período de pré-adopção (desde a chegada da criança a casa até aos seis meses seguintes, um período que por vezes pode ser prolongado), concluem que não têm capacidade para tomar conta da criança que receberam e desistem do processo de adopção. Chama-se «interrupção» ao momento em que depois da pré-adopção os pais adoptivos desistem de tomar conta das crianças. Nalguns países existem centros de apoio para as interrupções, que têm objectivo de ajudar na reunificação familiar. As disrupções /interrupções/ dissoluções (desadopções ou devoluções, como lhe chamam algumas crianças), não deveriam ter lugar no processo de adopção.

FACTORES COMUNS QUE PODEM LEVAR A UMA DISRUPÇÃO:
  • Expectativas erradas dos pais;
  • Não resolução do luto pelo filho biológico (em casos de infertilidade);
  • Falta de comunicação entre o casal, e entre o casal e a equipa de adopção;
  • A sua dificuldade em fazer um tipo de parentalidade terapêutica;
  • Atrasos ou incapacidade de vinculação da sua parte;
  • Não estar preparado para o adiamento da gratificação parental;
  • Falta de informação, de preparação e de apoio pós-adopção;
  • Pensarem que as coisas não vão mudar;
  • Descoberta de que a criança foi vítima de abuso sexual e incapacidade de lidar com os seus comportamentos sexualizados (estigmatização dos comportamentos da criança);

E AINDA:

– Um ou ambos os pais temem pela sua segurança física, ou pela dos seus outros filhos (adoptivos ou biológicos);

– O casal teme pela continuidade do seu casamento ou relação / deterioração da relação do casal;

– O casal considera que os comportamentos desafiantes da criança adoptada são intencionais, e que têm o objectivo de atacar a família;

– Tendência, por parte dos pais, para atribuir uma patologia a comportamentos das crianças que podem ser relativamente normais ou uma consequência da sua dificuldade de vinculação. Podem acreditar que a criança tem Transtorno Desafiador de Oposição, Transtorno Bipolar, Transtorno de personalidade sociopata, entre outros. Os pais passam a ler a criança à luz desses rótulos.

OUTROS FACTORES SÃO:

– A disrupção parece ter lugar quando a mãe adoptiva atinge o seu limite ou ponto de ruptura, quando se sente sobrecarregada e incapaz de melhorar as coisas;

– Existem casos em que os pais mais velhos chegam à conclusão de que não têm energia suficiente para lidarem com os seus filhos desafiadores.

Os pais devem informar-se, evitar idealizar o processo e saber que há coisas que levam muito tempo a curar. Cabe aos pais adoptivos procurarem ajuda junto das equipas de adopção e de outros pais, formando uma rede que lhes permita fazer face aos problemas vividos no dia-a-dia.

Alguns estudos têm demonstrado que as crianças que foram devolvidas se encontram (apesar de muitas vezes não o mostrarem) vinculadas aos seus pais e que a segunda rejeição tem consequências extraordinariamente dolorosas nas suas vidas. Por isso, é preciso:

→ Pensar antes de adoptar;

→ Não idealizar;

→ Saber pedir ajuda;

→ Falar com outros pais adoptivos;

→ Readequar expectativas;

→ Procurar perceber se a sua forma de parentalidade é adequada à adopção.

RECONHECER AS ETAPAS QUE PODEM LEVAR A UMA DISRUPÇÃO

Lua de Mel: Os primeiros meses são vividos por todos com expectativas altas, alegria e entusiasmo;

Diminuição da alegria: A atmosfera em casa começa a mudar. Os pais adoptivos começam a sentir tensão nas suas interacções com a criança e aquilo que parecia engraçado começa agora a ser irritante e frustrante. Muitas vezes, nesta fase os pais adoptivos não partilham as suas preocupações com ninguém fora da família, julgando que é uma fase que vai passar;

A criança é o problema: A relação com a criança começa a deteriorar-se. Cada coisa negativa que a criança faz (de birras a comportamentos desafiantes) se torna intolerável. A criança sente estas tensões, o que aumenta a sua ansiedade e, logo, o seu comportamento negativo. Os pais sentem que a criança os rejeita e começam a reagir demasiado ao menor problema;

Exposição pública: Os problemas dentro da família começam a ter impacto na vida pública da família. Os comportamentos negativos da criança são testemunhados pela família, amigos, escola, etc. Isso gera frustração e embaraço. Os conselhos que a família recebe podem levá-la insconscientemente a considerar que a criança é o problema;

Ponto de viragem: A família continua a desfazer-se. A criança vê-se envolvida num «acontecimento crítico» – mentir, roubar, apresenta comportamentos sexualizados – que os pais há muito esperavam. A criança atravessou uma linha e os pais sentem que não há esperanças para uma relação saudável. O conflito permanente coloca barreiras ao surgimento de relações mais reais. Caminha-se para a dissolução.

O ultimato: Os pais estabelecem uma fronteira limite para os comportamentos da criança, ou o seu comportamento melhora ou a criança terá de se ir embora. Com frequência, estas exigências são pouco razoáveis (que a criança nunca mais se zangue ou se porte mal).

A crise que põe um fim à relação adoptiva: A criança não consegue cumprir o prometido e tem lugar algo que põe fim à adopção. A família decide remover a criança. Todos os envolvidos na dissolução sentem dor: a criança sente-se zangada, confusa e rejeitada, os pais sentem-se zangados, culpados e aliviados.

Se as equipas e as famílias souberem reconhecer estes sinais pode-se evitar a disrupção. As equipas devem perguntar aos pais:

⇒ Que elementos de stress sentem com a criança?

⇒ Que outros elementos de stress podem dificultar a relação?

⇒ Que expectativas tinha e como se encontra a readequá-las?

⇒ Como se encontra a relação entre o casal?

⇒ Que apoio pode dar ao outro membro do casal?

⇒ Que sucessos tiveram com a criança desde que ela chegou? Anote num caderno as coisas boas de cada dia.

⇒ Como cresceu como pessoa desde a adopção? E como pai?

⇒ Que apoio adicional pode a mãe (ou o elemento do casal que se sente mais sobrecarregado) receber?

⇒ Existem outras famílias adoptivas por perto que possam ajudar o casal?

 

Fonte: Jayne Schooler. Wounded Children, Healing Homes: How Traumatized Children Impact Adoptive and Foster Families (p. 123).

Devem-se criar protocolos que sirvam para diminuir o impacto terrível da disrupção na cabeça das crianças:

  • A equipa que acompanha o processo deve ajudar os pais, no sentido de estes assumirem a responsabilidade pela sua decisão;
  • As crianças não devem ser responsabilizadas;
  • Deve dizer-se que os pais não reuniam as condições necessárias para tomar conta delas.
FICHAS DE APOIO (DISPONÍVEIS EM PORTUGUÊS EM BREVE)

Supporting Children and Families When Adoption Dissolution Occurs, Adoption Advocate, National Council for Adoption.

What are the Factors Leading to Broken Adoptions?, Adoption Advocate, National Council for Adoption.

Adoption Disruption and Dissolution, Child Welfare Information Gateway.