EM CASA
1. Chegada da criança
2. Plano
3. Casulo
4. As primeiras semanas
5. Retrocessos
6. Não és meu pai/mãe
7. Férias
8. Encontros com a família de origem
Chegada da criança
A chegada da criança exige mudanças de rotina para todos, mas sobretudo para ela, que tem de se habituar a uma família desconhecida, a uma casa nova, com outros cheiros, rotinas, regras e muitas vezes a uma nova escola. Não é fácil as crianças deixarem as suas casas e é normal que se lembrem com saudades do seu bairro, pais e escola. Podem não querer sentir-se bem ou rejeitar a família de acolhimento por medo de ali ficarem para sempre ou sentirem lealdades divididas entre esta família que trata bem a criança e a sua família de origem. É normal que haja explosões, birras, ou que a criança pareça triste e apática. Cabe à família de acolhimento ter paciência, ser encorajadora sem ser invasiva, deixando a criança fazer o luto.
AS FASES DE LUTO
As crianças que chegam a uma família de acolhimento passam por um processo de luto, que inclui as fases de choque ou negação, raiva, desespero e aceitação ou pelo menos compreensão. A separação da família de origem é difícil para todas as crianças, independentemente do motivo da integração. As crianças costumam mostrar as suas reacções emocionais a abusos anteriores e à separação da família através dos seus comportamentos.
A seguir, é apresentada uma descrição dos estágios do processo de luto e dos comportamentos típicos que uma criança pode manifestar em cada etapa. A duração do processo de luto varia para cada criança. Embora a maioria das crianças sinta aceitação ao final de um período de seis meses, algumas ajustam-se mais rapidamente e outras demoram muito mais.
Fonte: Foster Parent Handbook, Iowa Department of Human Services.
Choque ou negação (fase da lua de mel): emoções reprimidas
- As emoções podem estar ausentes, parecer superficiais ou sombrias;
- A criança pode parecer ausente ou dormir muito;
- Pode comer demasiado ou recusar alimentos;
- Pode negar que alguma coisa aconteceu;
- Pode parecer confusa;
- Pode tentar ser um filho modelo;
- Pode regredir e chupar no dedo ou fazer xixi na cama;
Raiva: manifestação de sentimentos
- Percebe as implicações de viver com a nova família;
- Pode partir coisas, fazer birras, gritar, chorar, incendiar coisas, roubar, mentir, agir sexualmente, tentar fugir;
- Pode ser agressivo ou perturbador em casa ou na escola;
- Pode ser ansioso, tenso e hiperactivo;
- Pode recusar-se a conversar com ou sobre a família de origem;
- Pode achar que é o culpado pela saída de sua casa.
Desespero: sentimentos interiorizados
- Aceita a realidade da integração na nova casa e percebe que o regresso à família pode não ter lugar em breve;
- Pode ficar deprimida, ausente;
- Não deseja interagir com outras pessoas, faz poucas perguntas;
- Pode parecer desorganizada, inquieta.
- Pode estar preocupado com coisas e não com as pessoas;
- Pode regredir para um período anterior da vida, quando as coisas eram mais felizes;
- Pode ter queixas físicas, como dores de estômago;
- Pode magoar-se.
Aceitação
- Sente e age com segurança no ambiente.
- Procura novas actividades e começa a investir emocionalmente.
ALGUMAS DICAS PARA SUAVIZAR ESTE PERCURSO
A seguir, apresentamos algumas sugestões que podem ajudar a lidar com a criança na fase de luto.
- Receba a criança com calma e sem fazer grandes festas. A criança já se sente constrangida, assustada e confusa;
- Evite ocasiões sociais. Estabeleça uma rotina regular o mais rápido possível e deixe para mais tarde as celebrações de boas-vindas;
- Explique e discuta os motivos da integração da criança em sua casa a um nível que ela possa perceber e num tom de voz suave e tranquilizador. Repita essas informações sempre que necessário;
- Forneça informações factuais sobre a localização e o paradeiro dos pais e irmãos;
- Respeite os sentimentos da criança pelo seu passado. Não faça perguntas. Informe a criança que a porta está aberta se ela quiser falar;
- Respeite os pais da criança e a lealdade da criança para com eles. Os pais da criança são importantes;
- Apoie os encontros com a família de origem;
- Deixe que a criança tenha objetos de valor e dê-lhe um lugar seguro onde os pode guardar;
- Reserve tempo;
- Concentre-se no bom comportamento da criança. Embora possa parecer mais fácil concentrar-se e punir o comportamento errado, geralmente é mais útil recompensar o bom comportamento da criança;
- É importante sublinhar tudo aquilo que a criança faz bem e o quanto gosta nela, bem como o que deseje que ela aprenda ou mude. Uma criança em acolhimento pode duvidar inicialmente das suas observações positivas, mas se for sincero e persistente, a criança começará a acreditar em si e a desenvolver uma melhor auto-imagem;
- Evite ameaças. Frases como “vou contar à equipa de acolhimento” ou “envio-te de volta para casa” deixam impressões dolorosas, e aumenta o sentido de vulnerabilidade da criança. A criança já perdeu uma ou mais casas e sente-se ameaçada com a possibilidade de perder outra. A longo prazo, isso prejudica a sensação de segurança da criança e é destrutivo ela;
- Todos os membros da família devem concentrar-se em ajudar a criança a sentir-se mais confortável;
- Use as tarefas domésticas de forma construtiva. Dê responsabilidades à criança de acordo com a sua idade e que não sejam nem muitas, nem poucas. Reconheça a criança quando faz bem estas tarefas. As responsabilidades domésticas apropriadas aumentam o sentido de pertença da criança;
- Ajude a criança a aceitar os seus pontos fortes e as suas limitações e não ultrapasse as capacidades da criança.
- Explique à criança que é normal ficar zangada;
- Mostre maneiras aceitáveis de se zangar – nadar, desenhar, correr, conversar, dar murros na almofada, etc.;
- Ajude a criança a compreender que ela não é a culpada por ter saído de casa;
- Explique novamente por que está a criança numa família de acolhimento;
- Se a criança contar histórias exageradas, não as ridicularize ou discuta;
- Determine com a equipa de acolhimento o que é real;
- Reserve tempo para a criança.
- Incentive a criança a falar sobre os seus sentimentos;
- Pergunte, mas não investigue, como se sente a criança;
- As bonecas e outras figuras podem ajudar as crianças a expressar os seus sentimentos através da brincadeira;
- As crianças mais velhas devem ser apoiadas e ajudadas a expressar as suas mágoas e preocupações;
- Deve interessar-se pela criança e fazer-lhe um livro de vida;
- Mostre respeito pelos seus sentimentos e dê-lhe abraços e toques tranquilizadores.
- Permita que a criança se lembre, converse e tenha contacto com a família de origem. Continue a trabalhar com a criança no seu livro de vida.
- Proporcione novos interesses à criança e dê-lhe oportunidade para desenvolver novos relacionamentos.
REGRAS
Ajuda muito se os cuidadores explicarem algumas regras simples às crianças quando estas chegam. Lembrem-se de que não há nada pior do que a incerteza.
→ Explicar o que pode a criança fazer se acordar a meio da noite (como pedir ajuda e onde ir)
→ Descrever como vai ser o dia seguinte por palavras simples (acordar, tomar o pequeno-almoço, etc.). Ou deixar um calendário (que pode ser visual, se a criança ainda não souber ler) no quarto que a criança pode consultar se precisar;
→ Deixar comida à mão (um pacote de leite, uma barra de cereais, uma sanduíche para se a criança acordar a meio da noite com fome) para que a criança saiba que não vai passar fome em casa;
→ Pode-se deixar o pequeno-almoço do dia seguinte preparado para que ela saiba que tencionam dar-lhe comida;
→ Não seja invasivo ou converse muito, procure dar tempo à criança para se habituar a si;
→ Lave os dentes com a criança para que ela aprenda a fazê-lo;
→ Crie uma rotina consistente, mas não insista muito em regras, nem seja disciplinador nos primeiros dias;
→ Lembre-se de que sua missão mais importante é a de convencer a criança de que está num lugar seguro;
→ Saiba que muitas crianças sentem vergonha e culpa pelo que lhes aconteceu, seja gentil.