Crianças parentalizadas

 

Algumas crianças vêem-se na posição de terem de tomar de conta dos seus irmãos ou pais quando ainda são muito novas. Quando a criança tem durante algum tempo o papel de tomar conta de outra(s) e de saber que esta depende de si, isso dá-lhe um sentido de responsabilidade e de auto-estima, o que é importante e não deve ser desvalorizado. As crianças parentalizadas são extraordinariamente resilientes, e cabe aos pais adoptivos valorizarem o esforço que fizeram no sentido de salvar a sua família. Isto não quer dizer, claro, que a vida tenha sido fácil ou simples para a criança, a quem foram roubados anos de brincadeira e conforto, que podem agora ser recuperados.

A integração das crianças parentalizadas nas famílias adoptivas deve ser realizada com cautela, principalmente quando estas tomam conta dos seus irmãos há algum tempo. Por um lado, manter a relação entre irmãos é importante para ambos, por outro, quando a criança parentalizada assumiu determinadas responsabilidades durante muito tempo é-lhe difícil sair do seu papel e aceitar que outros podem agora tomar conta dos seus irmãos (e que todos estão finalmente em segurança). Isso pode dificultar a relação entre a criança parentalizada e os seus pais adoptivos, levando à discórdia quando a criança coloca em causa as decisões dos seus novos pais ou cria situações de conflito de lealdade entre todos.

 

OS PAIS DEVEM:

– Conversar com a criança,

– Explicar-lhe as razões por detrás das suas decisões e

– Pedir-lhe ajuda sempre que necessário (e vai ser necessário, acreditem, pois ela conhece os seus irmãos melhor que ninguém).

OS PAIS DEVEM SABER QUE:

  • As crianças parentalizadas têm um grande sentido de responsabilidade e estão habituadas a tomar conta dos seus irmãos ou pais;
  • Foram forçadas a crescer demasiado rapidamente, o que as leva a ser prematuramente adultas nalgumas coisas, sentindo-se muitas vezes mais à vontade com adultos do que com os seus pares da mesma idade. Isto leva-as por vezes a sentirem-se pouco integradas com os seus colegas e amigos;
  • O facto de terem tido esta responsabilidade desde cedo não as leva a saber melhor o que fazer ou como educar os seus irmãos, mas leva-as, sim, a ter um papel de autoridade e confiança com os irmãos que os pais terão de esperar muito tempo para conseguir igualar;
  • As coisas correm melhor quando os pais sabem justificar as suas decisões, integrando a criança nas suas escolhas, e explicando-lhe os motivos destas de forma calma;
  • As coisas correm melhor quando os pais (que afinal estão agora a ser pais pela primeira vez) sabem pedir desculpa quando fazem algo mal (o que vai certamente acontecer) e conversar com a criança;
  • A criança já tem a sua personalidade formada, com os seus gostos, talentos e características, e que não faz sentido procurarem transformá-la. Aceitar a criança tal como é, com as suas extraordinárias qualidades, é fazer-lhe justiça. Não a obriguem a provar coisas de que não gosta, a vestir-se de certo modo, etc.
  • A criança mais velha precisa de fazer o luto pela família que não teve, que existem períodos em que estará triste e que precisará do apoio dos pais adoptivos, por muito que os rejeite. Saber estar ao lado dela, sem se imporem ou procurarem consolá-la, mas acompanhando a sua tristeza, é fundamental;
  • É normal que a criança teste e desafie os pais adoptivos, devendo isto ser considerado uma oportunidade para os pais lhe provarem que estão à altura dos testes. Estes não devem ser levados a peito;
  • Cabe aos pais direccionar e ajudar a criança a crescer na direcção que escolheu, conversando com ela sobre as suas decisões e ajudando-a a ficar cada vez mais forte e independente, mas com laços afectivos profundos, e com a consciência de que não está sozinha no mundo;
  • As regras em família devem ser elaboradas em conjunto e a criança deve participar nas decisões;
  • Tal como sucede com as crianças adoptadas, as crianças parentalizadas têm por vezes dificuldade em aceitar o não. Por vezes julgam que uma resposta negativa significa que os pais não gostam dela e cabe aos pais explicar com paciência que precisam de impor limites e zelar pela sua segurança.
  • Tal como acontece com as crianças mais novas, os pais precisam de procurar compreender qual a idade real (e não cronológica) da criança e ajustar as suas expectativas. Precisam igualmente de a ensinar a manifestar emoções de uma forma saudável.
SE É/FOI UMA CRIANÇA PARENTALIZADA, VEJA AINDA:

Kati Morton, Your parents are emotionally immature.

Kati Morton, What happened to my Childhood?.

É PAI/MÃE DE UMA CRIANÇA PARENTALIZADA, LEIA:
Crianças parentalizadas, www.adoptareacolher.pt
SE É ASSISTENTE SOCIAL OU PSICÓLOGO/A A TRABALHAR COM CRIANÇAS PARENTALIZADAS, LEIA:
Belonging matters—Helping youth explore permanency, Child Welfare Information Gateway.